segunda-feira, junho 25, 2007

Prémio Um Adeus é Um Adeus e Custa Sempre


25 de Junho. São já 32 anos. A Manuela e o Aurélio estão de parabéns. Declaro, sem aviso, que este é o meu último escrito.

Acho que é a melhor maneira de terminar o blog. Nova Iorque e o labor judio do hospital vergaram-me. Já não tenho tempo para escrever. E não gosto de escrever às três pancadas. Escrever por escrever é sobretudo desrespeitar-me. E desrespeitar quem lê. Adorei escrever. Adorei ser lido. Adorei.

Não sei se alguma vez vou voltar à escrita. Vou voltar a Portugal em breve. Cansado de muitos meses de estudo. De imagens a preto e branco. De ser uma sombra ou um fantasma de americanos muito bons. Mas na maioria das vezes pragmáticos e frios. Sinto falta do calor do sul da Europa. E de me sentir um pouco mais importante no local de trabalho. De ter a primeira ou a última palavra. Estar tanto tempo longe é muito desgastante, particularmente na auto-estima, sobretudo para quem está tão dependente do dar e receber, da malandrice, da pequena brincadeira, do piscar de olho, do contacto, de gostar que gostem de si.
Vou aproveitar o que resta para terminar o que falta do projecto de investigação e tentar aprender o mais possível sobre radiologia musculoesquelética. Foi esse o principal motivo e virou quase obsessão.

Sinto que aprendi muito neste tempo todo. Que cresci. Que conheci gente fantástica. Acrescentei outras coordenadas, outras experiências, outros saberes, outras formas de ver o mundo, às minhas próprias idiossincrasias. Não me perguntem se gosto mais de São Francisco ou Nova Iorque. Uma é mais uma aldeia de gente esquisita, gente interessante, na vanguarda da sociedade americana, com tendências mais progressistas, de consciência ecológica e o germinar de grande parte da inovação deste país. A Big Apple é esmagadora por ser o centro do mundo, uma babilónia dos tempos modernos, onde tudo se concentra, se conjuga, se processa para originar uma cidade única, uma amálgama de bairros, de quarteirões com a sua identidade própria, muitas vezes traduzindo diásporas diversas e a história dos diferentes povos e do próprio mundo.

Agradeço à todos os que leram e comentaram. Agradeço à Joana a sua paciência e generosidade. Agradeço às visitas. Agradeço pela primeira vez à minha directora de serviço que possibilitou estes meus projectos e devaneios. Agradeço a sorte de ter os amigos que tenho. E que fiz.

Devia ter feito um outro vídeo para comemorar esta despedida. Mas não tive força, energia ou vontade. Limitei-me a dormitar no Central Park, tentado recarregar as baterias que ainda restam. Ficam dois vídeos. Recupero-os do ano passado. O primeiro tem o belíssimo “Ilhas dos Açores” dos Madredeus a suportar fotografias de passados distantes, de alguns continentes e paisagens inesquecíveis. Foi o vídeo que coloquei faz precisamente hoje um ano. É o Rui pré-alien que lá aparece, com os seus sonhos de conquistar o mundo, com a sua mochila às costas, com os seus amigos. O segundo é O meu vídeo de São Franciso, com os DeVotchKa a fazer as honras da casa.

Mais uma vez obrigado. Vou ter saudades vossas.

Prémio Um Adeus é Um Adeus e Custa Sempre

sábado, junho 23, 2007


Liguem-se as luzes, calibrem-se os holofotes, afine-se a orquestra, o padre que coloque a voz. Os noivos estão prontos há muito tempo. Parabéns.

Pois é. Agora já não tenho desculpas para não escrever. Não há constrangimentos que desculpem. Hoje é um dia especial. Como são quase todos. Mas este é mais ainda. Daqueles que não podemos deixar escapar nunca. E talvez pela primeira vez não vou estar presente. Só à distância. À custa dos zeros e uns dum sistema binário que tem mudado o mundo.

Começo pelos Chieftains e Van Morrison. Servem de pretexto para voltar uns anos atrás, ainda antes dos tempos da faculdade, na altura das borbulhas e de começar a achar piada às miúdas. E de pretensiosamente fugir do mainstream à custa duns velhos de gaitas de foles, harpas, bohdrams e flautas. Eram tempos da Cal Brandão. Dos amigos da Cal Brandão. Do campismo no Algarve, mais tarde dos interails. Das longas conversas e confissões. Tempo dos amigos que ficaram. Tempo dos amigos que viraram intemporais. Daqueles que não se questionam. Que estão lá sempre. Independentemente do que façam. Independentemente do que façamos.
As amizades não se quantificam. Nem se medem. Até porque algumas escapam claramente às escalas. Pulverizam as classificações. Sem motivo aparente, sem sabermos porquê, por que razão este, por que não aquele, mas vamos construindo a nossa rede, escolhendo e sendo escolhidos. Os nossos amigos não são melhores nem piores que os outros. Mas por algum motivo, pela altura certa, pelas circunstâncias, ficaram sendo nossos.

Pois bem, um dos grandes amigos casa hoje. Aquele que esteve sempre nas alturas certas. Apesar da distância, e apesar das muitas distâncias dos últimos anos. Há quem brinque com a nossa amizade e essas mesmas distâncias, chamando-lhe o meu urso Hobbes imaginário. Mas até considero um "elogio" terno,  benquisto, um pouco ciumento apenas.

Repito que apesar da distância não deixarei de ser um dos “Best Man”. E estarei na primeira linha a apadrinhar esta nova aventura. Boa sorte. Sejam felizes. Como me dirias, tu mereces, meu rapaz.


Prémio Onde Está o Rui Rio?

Os índices de desenvolvimento do Norte estão em queda. O panorama sócio-económico da região é preocupante. O aeroporto Sá Carneiro está diminuído graças à estratégia centralista da ‘negociOta’. Em todas as dimensões, o Porto perde importância de dia para dia.
Entretanto, surgem sinais de inconformismo: o reitor da Universidade do Porto reage contra a falta de influência da região; Rui Moreira desvenda o arranjo Governo/CIP e patrocina um estudo sobre o novo aeroporto; Paulo Morais revela as ligações perversas entre Urbanismo e partidos.
Rui Rio nada diz. Está na apatia de quem não se interessa. Viu Mário Lino colonizar a Metro do Porto e gostou. A ‘recuperação da Baixa’ é uma gargalhada. A sua Câmara não existe, a sua Junta ninguém dá por ela. Este é, também, o preço que temos de pagar quando está no Porto alguém que já só pensa em Lisboa.

In Blasfémias

quinta-feira, junho 21, 2007

Segundo um estudo da Universidade de Chicago, a frase de engate mais eficaz é «hi» («olá»). Séculos de civilização para chegarmos a isto.

In Estado Civil, de Pedro Mexia

terça-feira, junho 19, 2007

Sim, o blog tem sido relegado para segundo plano. Eu próprio tenho sido relegado para segundo plano. As noites são cada vez mais curtas e os dias compridos. Estes nova-iorquinos são loucos. Trabalham como tolos. Fazem reuniões aos sábados, esturricam sob o sol inclemente do Central Park e não precisam nunca de descansar. Tenho uma série de pequenas coisas para contar, mas também não me posso cansar muito. Tenho que me guardar. Aproveitar a inspiração do momento e mantê-la em banho-maria, em lume brando. Sábado, 23 de Junho, está mesmo à porta. Posso dizer que falta pouco. O que é sempre verdade para quem está preparado há tanto tempo. É um dia importante. E tenho que escrever algo à altura. Hoje quando voltava de metro para casa começou a insinuar-se o que dizer. Provavelmente sairá algo muito diferente.

Seguem-se pequenos apontamentos. Ou trivialidades. Ou como um português ocupa o tempo livre numa cidade que não pára. E desgraçado de quem olha para trás.

Quarta foi noite de ópera. No “great lawn” do Central Park. Na relva, sobre duas ou três mantas, fomos petiscando e conversando ao som da música. Soube bem, apesar de algum frio. Foi um piquenique enquadrado pelas estrelas, pelo canto lírico, com um bom vinho português (obrigado Madureira) e sobretudo boa companhia.

Sexta deu lugar a jantar de “fellows”, apadrinhado pelo Jenanan Vairavamurthy (!), estudante de Medicina do Sri Lanka. Num restaurante indiano. Do sul do sub-continente. Consegui sobreviver ao curry, ao picante, à água, à água em copo de metal, à indicação que “a pia era só para lavar as mãos”, aos olhares enojados de gente menos feliz, desgraçada, que tentou enganar a fome com um pouco de arroz e algo entre o crepe e a hóstia. Deu para tentar aprender a comer com as mãos, ou melhor, com a mão direita. O uso da esquerda é tido por grosseiro em todo o sudoeste asiático. Fiz de quatro dedos uma colher enquanto o polegar, que resta disponível, empurra a comida para a boca. Tentei ser romano em Nova Iorque e por isso, durante dois dias tive que lidar com o cheiro a curry na mão. Seja. Mais tarde seguimos em conversa animada por um daqueles bares que só encontramos por estas bandas, com sofás, candeeiros, abajours, como que partilhando a comodidade da casa de alguém entre amigos e desconhecidos.

Sem tempo para descanso, sábado foi dia de “graduation”, de “formatura”, como lhe queiram chamar. Os residentes estão a terminar o seu internato, os fellows também e tudo isso é pretexto para um jantar de gala. Até aí nada de novo. Até porque em São Francisco fui convidado do António e da Karen. Aqui é ainda mais sério. O dia é todo ele dedicado à promoção da excelência do departamento. NYU excels itself. Não tive acesso ao jantar de gala, o que neste caso particular agradeço. Mas tive que estar de manhã numa reunião onde os residentes apresentaram os projectos científicos. Logo às 7.30. Depois dum pequeno almoço também ele de gala. Na audiência estavam nomes com Naidich (122), Schweitzer (226), MacGuinness (59) , Bosniak (141), Balthasar (146), Megibow (133), Macari (78), Grossman (291), Knopp (49) entre outros. Tudo gente com toneladas de artigos e muita ciência publicados. Daqueles que têm nomes de doenças, critérios ou scores de classificação com o nome próprio. Durante horas ouvi gente a debitar investigação e gente consagrada a ouvir, a interpor, a questionar. Os números entre parêntesis traduzem o número de artigos publicados que resultam duma pesquisa rápida na “pubmed”. Tudo artigos com arbitragem científica. Impressionante. Ou talvez não, ao que estes loucos trabalham.

Sábado foi também noite de aniversários. De portugueses, entre portugueses e nova-iorquinos. Sejam eles autóctones, portugueses ou de outro lado qualquer.

Domingo foi para ressacar. E maldizer o raio do cirurgião plástico que me acordou às 9 da manhã, dizendo que passavam da uma. Alguém que lhe diga que são cinco horas de diferença.

Os primeiros meses são sempre os mais difíceis. Os outros, o resto, fica por contar. Já me sinto quase a partir. Estou quase nos Açores!

sexta-feira, junho 15, 2007

Isto de estar numa cidade em que todos os nomes próprios têm uma razão de ser ora porque simbolizam algo, representam misteres longínquos, antecedentes religiosos, estratificam castas, tribos, estabelecem estatutos familiares, tribais ou apontam para antecedentes geográficos, leva a que me interpelem repetidamente sobre significado do "ruuuiiiiieeee" 

Sempre respondi que não sabia. Que nunca me interroguei. Tal como nunca me preocupei muito com o nome dos outros. Pois hoje "googlei". A primeira definição que encontrei vi repetida em diferentes sites de qualidade duvidosa. Portugueses e brasileiros. Definição sempre copiada até à vírgula. VALE O QUE VALE!!! E sempre atira a culpa para os meus pais.

RuiSignifica ‘rei famoso’ e indica uma pessoa que, embora seja sincera e leal, tende a falar muito, sem pensar no que diz, e isso pode trazer-lhe problemas. Os pais devem ensinar-lhe a medir as palavras.
PS. Não se esqueçam. Estou quase a fazer anos. Será que um palavómetro ainda vai a tempo?

quarta-feira, junho 13, 2007


Metro, sempre o metro. Poderia ser fonte de dezenas de escritos. Se fosse capaz de pôr a escrita em dia. E de me espantar com mais do mesmo. A semana passada entrou um daqueles cantores com um órgão electrónico. Daqueles com tamanho quase piano. Uma monstruosidade. De tal forma que a única forma de equilíbrio, era desistir de equilibrá-lo. Era mesmo no chão, vagando uma clareira. Esse espaço amplificou a potência vocal do sujeito. Potenciou todos os agudos, todas as imperfeições, todas as sonoridades que iam do terrível ao doloroso. Sem exagero. Ele até era esforçado. Berrava como um desalmado. Nem sequer desafinava pois não havia talento para afinanços prévios. Um desastre. Fiquei com pena do homem, mas sobretudo fiquei constrangido. Apontei os olhos para o chão, para evitar o contacto com as outras pessoas. No fundo, fiquei embaraçado com a sua falta de jeito. Todos ficaram. Por incrível que pareça, ou talvez não, o caramelo ainda amealhou umas massas. Fica por provar se recebeu por ter cantado ou para não cantar. Ainda recebeu o elogio duma velhinha amorosa de surda ou de mentirosa. Que ele tinha muitas capacidades, que só era pena não ser mais novo para concorrer ao Chuvas de Estrelas cá da praça. Ele respondeu sem desarmar que sim, que era pena não ser mais novo, se o fosse cantaria o resto da vida. Que ninguém o oiça.


No dia que o futebolista português com maior palmarés de sempre anuncia a sua despedida, os jornais desportivos discutem as compras putativas dum empresário qualquer na Argentina. Segundo sei, deve andar a atirar beijocas, mas não será caso para tanto! Fica o adeus..

Um figurão de fato e gravata, mala, óculos de sol, encontra-se de pé num metro, praticamente vazio. Afasta os pés, dobra ligeiramente os joelhos, flecte o tronco e retesa-se. Toda a sua concentração converge para os punhos que se encontram sobrepostos, flectidos, em tensão, agarrando um taco de golfe imaginário. Entre as diferentes paragens, o gesto repete-se. Para trás, para a frente, pára, volta atrás, repete, pancada. Sempre com a mesma força, imagino que sempre com o mesmo taco imaginário. Não sei se terá acertado alguma vez no lugar certo! Mas terá sido por pouco.

segunda-feira, junho 11, 2007


A carne não era má. A massa também não. O tempero seguiu ordens telefónicas de Portugal. Tinha tomate, cebola, alho, pimento, uma folha de louro, pimenta e um pouco de noz moscada. Não consta que o azeite estivesse estragado. Mas tudo lavado, estrugido, mexido, espremido e finalmente estufado, foi uma grande desilusão. Terá sido porque me esqueci do cozinhado enquanto desperdiçava tempo com um jogo de computador reles? Deviam avisar com aquelas letras pequeninas, no fim das embalagens, no verso, onde quer que fosse, que comida ao lume esturrica.

Se tivessem 21 anos, cara de miúdo, iniciado a Licenciatura aos 16 anos e a mãe a passar uma temporada na terra natal, seja Sri Lanka ou Ceilão, que mais imaginariam fazer nos dois meses de férias da Faculdade de Medicina?

A) Melhoria de notas?
B) Revisões?
C) Começar a preparar o exame de acesso à especialidade com estudo intensivo do Harrison?
D) Vir dormir para o sofá de casa dum irmão, fazer um projecto de investigação durante todo esse período e ainda passar o dia todo numa subcave escura a ver radiologistas relatar dezenas de exames de áreas anatómicas que nem se sabe discernir e enumerar diagnósticos diferenciais de patologia que nunca se imaginou?

E) Encharcar em barbitúricos, sedativos e hipnóticos e escapar incólume a umas férias terríveis?
F) A+B+C+D+E
G) Nenhuma das anteriores

Resposta: Os experts em exames de escolha múltipla dirão que a resposta mais comprida encerra sempre a opção mais correcta. Ou errada.

Justificação: Estes americanos não sabem parar. Não sabem parar para almoçar com calma, não sabem parar nas férias, não sabem inventar feriados, não sabem meter baixas médicas, não sabem gozar atestados fraudulentos, não sabem fazer pontes, não sabem dormir à sombra do trabalho dos outros, não sabem chutar para canto, não sabem assobiar para o lado, não sabem esconder os papéis debaixo da secretário, não sabem encolher os ombros, dizer que o chefe não está, fazer que se faz nem colocar o telefone fora do descanso.  Que sonsos, insossos, palermas, totós, marrões, morcões. Parece que não sabem o que é uma caipirinha, um sol escaldante, uma brisa fresca, uma praia de sonho, uns biquinis coloridos e um mar a perder de vista. Socorro, tirem-me daqui. Quase que trocaria isto pelo Algarve de Armação de Pêra ou Quarteira. 





Ainda não sei para quando, mas esta será muito provavelmente a minha próxima viagem. Longe dos livros, longe de hospitais, de imagens a preto e branco, de computadores e da Internet, de blogs e de informação codificada em zeros e uns. Um dia! Sul da Líbia. Yémen. Namíbia. Chile. Esperem por mim. Com ou sem Rosilene.

domingo, junho 10, 2007




Sem tirar o mérito à "Rosilene", façam uma pequena busca no Google. Procurem "road movie" "science fiction" e "love story". Vão ver que aparece, num destacado segundo lugar, a resposta. Starman de 1984. Era quase impossível dar mais dicas...

sábado, junho 09, 2007

Sábado passado a rever um artigo maldito. Já não consigo olhar para o computador, nem para a internet. Fica aqui um Quiz, já que não há paciência para muito mais.

Coloco esta música. Encontrei num site brasileiro meio brega. Faz parte da banda sonora dum filme que me marcou nos tempos de pré-adolescência. Foi um dos primeiros que vi em vídeo. Há mais de 15 anos. Marcaram-me os actores. Marcou-me a música. Marcou o filme entre história de amor, ficção científica e road movie. Fica então o desafio. Pago um jantar a quem descobrir a que filme corresponde esta música.

Pede-se às moças jeitosas que avancem primeiro...

quinta-feira, junho 07, 2007


Novamente ecos do Porto,

Olá Morcão.
Ontem fui a Serralves aproveitar o fim de semana do Serralves em Festa e ver Panda Bear. Não sei se conheces e provavelmente não é a tua onda. Mas são muito bons. Informa-te. É um moço dos Animal Collective que vive há uns anos em Lisboa.
Mas portuga estraga mesmo tudo. Concerto de graça, logo até os velhotes se sentaram na primeira fila para ver. Passados 30 segundos já só tínhamos cabelos brancos, grisalhos, assim-assim, sem cabelos, com bengalas, a tapar os ouvidos e a fugir do palco. A audiência transformou-se em ausência. Os que resistiram procuraram estragar o concerto, falando e incomodando quem queria ouvir (eu e porventura mais umas centenas de interessados).
O concerto foi no court de ténis, mesmo ao lado da casa de chá, supostamente ao ar livre, mas embaçado por uma enorme nuvem de tabaco. Estou capaz de dizer que dos vários milhares de humanos que aproveitaram a borla de Serralves, metade andava com cigarro na boca ou na mão. Poder-se-ia dizer também que metade dos fumadores da cidade do Porto foi passear-se para Serralves.
Pedro Ferreira

Com as devidas autorizações...

Fiz o check in e sentei-me, claro, em frente a uma rapariga bonita. Perguntei-lhe o que tinha no saco de mão. Um gato. Claro que perguntei se podia ver, ao que ela acedeu. Claro que insisti que o gato era o máximo e claro que disse que também tinha um. Pronto. That's it. Claro que começámos uma conversa de 2 horas. Tinha 28 anos e é de Israel (Tel Aviv). Estuda veterinária em Filadélfia, e é muito engraçada. Claro que fiquei com o e-mail…para o caso de ir a Israel de férias….

Depois, entrei no avião, tinha o lugar ao meu lado vago… por pouco tempo. Um rapaz com tranças e chapeuzinho perguntou-me se (eu) podia trocar de lugar com a senhora de 60 anos, sentada atrás de mim, ou seja, ao seu lado. A razão era porque os J…. não podem viajar ao lado de mulheres. Não pensei e aceitei. Claro que me f… porque tive 9 horas ao lado dele quando podia ter um lugar vago ao meu lado. Como se não bastasse, começou a ler a sua “bíblia”. Pediu comida que nem tocou. Só bebia água com gelo. Para meter-me com ele perguntei se não bebia álcool. Claro que sim, respondeu, mas não fermentado ou fermentado, ou fervido, e sem intervenção de pessoas que promovam a idolatria, o que promovendo, não pensem nisso enquanto trabalham o vinho. Vinho Kosher. Estive quase para perguntar como era na cama, se fornicava ou tinha que esperar por alguma bênção ou mensagem divina. Mas faltou a coragem.
Nove horas ao lado dele devem ter sido uma praga da Bárbara. Foram nove horas de balouço para trás e para diante a ler a bíblia. Mais que uma vez estive para perguntar se estava com prurido anal...
José Miguel

quarta-feira, junho 06, 2007

A Lufthansa não teve que desviar outro avião de maior porte. Nem que que fretar qualquer navio de carga. Durante estes poucos dias conseguimos entreter o Ze Miguel de tal forma que não comprou nem uma peça de arte para amostra. Ainda tentou o MOMA, mas a parada estava muito alta. Cuidado galeristas, leiloeiros, coleccionadores públicos ou privados. Ele está de volta. Com as baterias carregadas.

Apreciem. Não há versão do Sammy Davies Junior ou tantos outros que bata a preciosidade que é a desta senhora irascível, com modos de diva.

terça-feira, junho 05, 2007


À atenção dos colaboradores mais dedicados. Traduzido por Pedro Mexia, num dos seus posts mais recentes.


Ainda estou para saber se é pelos encantos de Nova Iorque, pela hospitalidade da Joana, pelo custo das viagens, pelas meteorologia, por alergia à costa leste, por cozinhar, pela cultura, pelo nevoeiro de uma, pelos museus da outra, pelo Jazz, pelo Lincoln Centre, pelo apartamento, pela confusão, pelos saldos, pelas compras, pelos restaurantes, porque sim, porque não, pelo contrário, pela Primavera, pela 5a Avenida, por teimosia, por desfaçatez, pelos hippies, pelos yuppies, pelos maricas, pelos judeus, pela Broadway, pela Golden Gate, pelo Central Park, pelo Dolores Park, pelo Starbucks, pelo Ritual Café, pelas Sephoras, pela Amoeba, pelos arranha-céus, pelas casas vitorianas... Mas em pouco mais que um terço do tempo já bati recordes de visitas. Cuidado. Já não falta muito. As inscrições estão ainda abertas. Mas não deixem para o fim. Ainda espero a Maria e o Sr. Ciano.

segunda-feira, junho 04, 2007

Aceitam-se encomendas de perfumes, cremes, loções, águas de colónia, desodorizantes, make-up diversa

domingo, junho 03, 2007

Num anfiteatro cheio de gente, num congresso no hospital onde passo os dias, falavam vários oradores e o meu chefe moderava. Às tantas, um telemóvel estridente começa a berrar com o toque mais exagerado e foleiro possível. O dono fica tão atrapalhado que não consegue desligá-lo. Tentou inclusivamente arrancar a bateria. Foram longos segundos duma chinfrineira desgraçada. Como as goelas duma criança esfaimada. A sala parou enojada. As gentes do púlpito estremeceram incrédulas. A relatividade virou realidade, pois os segundos tornaram-se horas. A estridência virou silêncio culpado. E remoque acusador. Passei hoje a maior vergonha da minha vida. O telemóvel era meu.

sábado, junho 02, 2007


Loja da Sephora, na Union Square. Entrámos para comprar um creme para a minha mãe. Éramos os únicos homens no meio do mulherio. O Zé Miguel encontrou o seu pequeno paraíso. Eu arregalei os olhos de espanto. Custou é vir embora. Sentimos falta do ar condicionado!

sexta-feira, junho 01, 2007


O dia a dia do Chefe de Serviço de Radiologia aqui da NYU passa por acordar entre as duas e meia, três da manhã, fazer algum exercício, viajar de New Jersey para Manhattan durante duas horas, passar o dia a disparar relatórios, rever artigos, tratar da burocracia do serviço, orientar pelo menos uma reunião científica de 60 minutos, ser editor-chefe duma revista internacional de osteoarticular, ser consultor científico de várias empresas da área, responsável por "grants", encharcar-se em diet cokes e passar outras 2 horas no regresso a casa. Deita-se às 21h30m. São homens destes que fazem falta. Com mais uns quantos radiologistas assim, todos os outros (leia-se nós) podiam fazer nenhum, que em média seríamos todos trabalhadores e empreendedores. Vantagens da estatística. E das médias, que não queremos cá desvios padrões para nada...

quinta-feira, maio 31, 2007

Brincadeirinha, que isto de ser patrão não está para greves... Mostra-se então uma piadinha, para não se dizer que deixei o blog ao abandono.

Torna-se cada vez mais difícil arranjar assunto para escrever. Porque depois de algum tempo fora, corro o risco de me aculturar e ser menos sensível às idiossincrasias americanas. Porque posts como o anterior, embora se escrevam numa fracção de tempo aceitável, demoram tempo a levedar(*). Porque tenho medo de, às vezes, na tentativa de escrever o que quer seja, vender gato por lebre. Porque dá-me gozo reler algumas coisas que escrevi, mas sinto-me desconfortável com a falta de qualidade de outras. Porque nem tudo é passível de ser vertido num espaço que, embora vagamente confessional, enquanto protegido pela distância e pelo ecrã do computador, não deixa de ser público.

(*) Pela necessidade de registo mental prévio dos diferentes pormenores e por ter que decidir o tom que quero emprestar ao tema. O que escrevi ontem estava já prometido há semanas. Estava cá dentro desde a primeira vez que apanhei uma tarde de sol e almocei no parque mesmo à frente do hospital. Sentado num banco, senti algo opressivo e triste naquele jardim, parente pobre de todos os outros. Decidi logo que teria que escrever alguma vez sobre isso. Ficou como um dos temas que guardo na gaveta, para quando tenho mais disponibilidade para escrever e não tenho nada de mais actual para contar. Por outro lado, o deixar passar dias, permiti-me acrescentar detalhes. Nunca mais passeei pelo parque, cruzei o hall de entrada do hospital ou cedi a passagem no elevador, sem que fosse atento às situações para completar o que quis transmitir. Quanto mais não seja, o blog treina-me a ser repórter do meu próprio quotidiano, uma reminiscência vagamente socrática do conhece-te a ti mesmo!