quarta-feira, junho 13, 2007


Metro, sempre o metro. Poderia ser fonte de dezenas de escritos. Se fosse capaz de pôr a escrita em dia. E de me espantar com mais do mesmo. A semana passada entrou um daqueles cantores com um órgão electrónico. Daqueles com tamanho quase piano. Uma monstruosidade. De tal forma que a única forma de equilíbrio, era desistir de equilibrá-lo. Era mesmo no chão, vagando uma clareira. Esse espaço amplificou a potência vocal do sujeito. Potenciou todos os agudos, todas as imperfeições, todas as sonoridades que iam do terrível ao doloroso. Sem exagero. Ele até era esforçado. Berrava como um desalmado. Nem sequer desafinava pois não havia talento para afinanços prévios. Um desastre. Fiquei com pena do homem, mas sobretudo fiquei constrangido. Apontei os olhos para o chão, para evitar o contacto com as outras pessoas. No fundo, fiquei embaraçado com a sua falta de jeito. Todos ficaram. Por incrível que pareça, ou talvez não, o caramelo ainda amealhou umas massas. Fica por provar se recebeu por ter cantado ou para não cantar. Ainda recebeu o elogio duma velhinha amorosa de surda ou de mentirosa. Que ele tinha muitas capacidades, que só era pena não ser mais novo para concorrer ao Chuvas de Estrelas cá da praça. Ele respondeu sem desarmar que sim, que era pena não ser mais novo, se o fosse cantaria o resto da vida. Que ninguém o oiça.

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