Prémio Um Adeus é Um Adeus e Custa Sempre
25 de Junho. São já 32 anos. A Manuela e o Aurélio estão de parabéns. Declaro, sem aviso, que este é o meu último escrito.
Acho que é a melhor maneira de terminar o blog. Nova Iorque e o labor judio do hospital vergaram-me. Já não tenho tempo para escrever. E não gosto de escrever às três pancadas. Escrever por escrever é sobretudo desrespeitar-me. E desrespeitar quem lê. Adorei escrever. Adorei ser lido. Adorei.
Não sei se alguma vez vou voltar à escrita. Vou voltar a Portugal em breve. Cansado de muitos meses de estudo. De imagens a preto e branco. De ser uma sombra ou um fantasma de americanos muito bons. Mas na maioria das vezes pragmáticos e frios. Sinto falta do calor do sul da Europa. E de me sentir um pouco mais importante no local de trabalho. De ter a primeira ou a última palavra. Estar tanto tempo longe é muito desgastante, particularmente na auto-estima, sobretudo para quem está tão dependente do dar e receber, da malandrice, da pequena brincadeira, do piscar de olho, do contacto, de gostar que gostem de si.
Vou aproveitar o que resta para terminar o que falta do projecto de investigação e tentar aprender o mais possível sobre radiologia musculoesquelética. Foi esse o principal motivo e virou quase obsessão.
Sinto que aprendi muito neste tempo todo. Que cresci. Que conheci gente fantástica. Acrescentei outras coordenadas, outras experiências, outros saberes, outras formas de ver o mundo, às minhas próprias idiossincrasias. Não me perguntem se gosto mais de São Francisco ou Nova Iorque. Uma é mais uma aldeia de gente esquisita, gente interessante, na vanguarda da sociedade americana, com tendências mais progressistas, de consciência ecológica e o germinar de grande parte da inovação deste país. A Big Apple é esmagadora por ser o centro do mundo, uma babilónia dos tempos modernos, onde tudo se concentra, se conjuga, se processa para originar uma cidade única, uma amálgama de bairros, de quarteirões com a sua identidade própria, muitas vezes traduzindo diásporas diversas e a história dos diferentes povos e do próprio mundo.
Agradeço à todos os que leram e comentaram. Agradeço à Joana a sua paciência e generosidade. Agradeço às visitas. Agradeço pela primeira vez à minha directora de serviço que possibilitou estes meus projectos e devaneios. Agradeço a sorte de ter os amigos que tenho. E que fiz.
Devia ter feito um outro vídeo para comemorar esta despedida. Mas não tive força, energia ou vontade. Limitei-me a dormitar no Central Park, tentado recarregar as baterias que ainda restam. Ficam dois vídeos. Recupero-os do ano passado. O primeiro tem o belíssimo “Ilhas dos Açores” dos Madredeus a suportar fotografias de passados distantes, de alguns continentes e paisagens inesquecíveis. Foi o vídeo que coloquei faz precisamente hoje um ano. É o Rui pré-alien que lá aparece, com os seus sonhos de conquistar o mundo, com a sua mochila às costas, com os seus amigos. O segundo é O meu vídeo de São Franciso, com os DeVotchKa a fazer as honras da casa.
Mais uma vez obrigado. Vou ter saudades vossas.