segunda-feira, outubro 09, 2006


Um trabalho gráfico dos outros aliens de São Francisco, a partir de uma fotografia tirada no Kauai. Serve de epílogo, posfácio ou conclusão. Já estou cá do outro lado. Até sempre...

domingo, outubro 08, 2006



An alien is always an alien, wherever he is.

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sábado, outubro 07, 2006



Ando a adiar há dias. Por falta de inspiração ou de vontade, não sei. Queria um encerrar do blog “à maneira”. Com um belo texto de balanço. Mas o engenho e a arte têm rareado por estes lados. Nada. Tudo muito forçado, muito esforçado, muito transpirado, mas pouco mais. É sempre difícil colocar um ponto final. Vou sentir saudades de muita coisa que fica destes 6 meses.

O blog vai acabar. Não há volta a dar. Desde o nascimento que tinha um prognóstico reservado. O propósito estava claramente definido. Acabaria e acaba com o meu regresso. Foram horas e horas de dedicação. A escrever. A ler os comentários. A preparar as fotografias. A fazer vídeos. A escolher músicas. A seleccionar títulos. A ler outros blogs. A aprender a mexer na própria internet. Fi-lo por vocês. Só assim é que faz sentido. Mas fi-lo também muito por mim. Gostei muito de o ter feito. Tirou-me tempo mas deu-me muito gozo, muito prazer. De escrever e ser lido.

O saldo é claramente positivo. Foi bom ter voltado a escrever. Por gosto e prazer na maioria das vezes, raros dias por obrigação. E confirmou algo que estava adormecido há muito tempo. Que apesar de ser um médico a tempo inteiro e um viajante por vocação, existem outras vertentes que quero, que preciso de preencher. O blog veio levantar essa lebre.

O blog foi evoluindo. Como eu próprio. Inicialmente procurei contar o que ia fazendo, as idiossincrasias, as pequenas surpresas e as bizarrias que a sociedade americana em geral e o microcosmos de São Francisco em particular me suscitavam. Eram pequenos apontamentos, na sua maioria tentando ser espirituosos e resumidos. Depois, à medida que me fui integrando, fui conhecendo gente, estabelecendo pontes e amizades, passei a a descrever menos o que ia fazendo e observando. A forma tornou-se então mais cuidada. Mais elaborada. E passei a verter mais o que pensava do que propriamente o que ia fazendo.

Gostaria de agradecer. A todos os que leram. Que comentaram. Que apoiaram. Que criticaram. Só escrevi porque fui tendo um público. Sempre atento. Sou obrigado a agradecer particularmente ao meu pai. Que tinha a preocupação de se levantar mais cedo, não fosse o filho enganar-se numa vírgula, num acento ou num erro ortográfico mais vexatório.

De qualquer das maneiras, este blog foi sempre escrito em cima do joelho, sem rede. Por isso quase tudo surgiu cru, por fermentar. Sem grandes cogitações ou elaborações. Muitas vezes comentei na hora. Com as respectivas consequências, em termos de conteúdo, forma ou rigor. Só por duas vezes imprimi e corrigi o texto. Foram talvez os dois pedaços com maior pretensão literária. Tudo o resto foi escrito de rajada, com alguma voracidade. Lembro-me de algumas vezes ter escrito inclusivamente na sala de leitura de exames. Enquanto deixava os residentes e os especialistas entretidos com os inúmeros nódulos pulmonares estáveis e sem interesse ou as artérias acessórias ou substitutas, o meu pensamento estava noutro lado qualquer, mais preocupado com uma frase, com um comentário, um parágrafo ou um sinónimo.

Pretendia fazer um resumo. Do que foi positivo ou negativo. Da cidade. Do hospital. Dos passeios. Do clima. Dos cafés ou restaurantes. Da comida. Dos concertos. Dos americanos. Da sociedade americana. Do modo de viver por estas bandas. Da facilidade de se estabelecer novos contactos, novas relações e de como elas são facilmente desfeitas pelo tempo, mobilidade e distância. Da dependência do blog, do mail e da internet. Dos milhares de horas passados a ouvir música. Pretendia mas não sou capaz. Falta-me já disponibilidade. Estou já com a cabeça na despedida que vou ter amanhã. E, sobretudo, no regresso.

Está na altura de voltar a casa. Não ao 1221 A da Segunda Avenida, São Francisco, mas a casa, Casa. Vila Verde. Valbom. Gondomar. Ao hospital de São João. E ao Porto. Vai ser bom voltar. Sinto falta de abraçar todos aqueles que gosto. Mas vou ter saudades do que deixo. De uma cidade pela qual me apaixonei. Na qual adoraria viver se tivesse outras coordenadas geográficas. Dos amigos. Tive a sorte de conhecer pessoas extraordinárias. E de ficar amigo delas. Volto a agradecer a bondade e a disponibilidade. Tornaram a estadia em São Francisco muito mais recompensadora e inesquecível. Deixou de ser a uma cidade na Califórnia, para ser a cidade onde estão muitos amigos.

Obrigado António. Karen. André. Rochele. Rita. Alexandre. Sílvia. Cedric. Geraldine. Marta. Markus. Vincent. Laurence. Iann. Sophie.

A volta das caravelas vai ser então mais dolorosa. Implica uma perda maior. Muito maior. Mas como já escrevi anteriormente, só perde quem ganha. Penso que ganhei muito. Ainda não sei o que perdi. O balanço definitivo ficará por fazer. Ainda não tenho o discernimento que só o tempo e a distância concedem.

Adeus a alguns. Até já a muitos outros. Estou quase aí. Ao virar da esquina.


PS...
Vou deixar aqui, uma vez mais o meu mail (r.cunha@yahoo.com ou ruihsj@yahoo.com) . Sobretudo para os poucos que vieram cá ter por acaso ou distracção. Fica a minha referência para escreverem quando quiserem. Estejam à vontade. Gostava muito que escrevessem. Sempre seria mais um ponto positivo daquilo que representou o estágio em São Francisco. Em Portugal fazem-se também muitos e bons amigos. Posso orgulhar-me dos meus. Não são piores nem melhores que os dos outros mas, por qualquer motivo, por força das circunstâncias ou destino, por felicidade ou infelicidade (para eles), são meus amigos. Mas ao contrário da sociedade americana, em que tudo está em constante mutação e mobilidade, com gente a chegar, a partir, em trânsito, por semanas, meses, anos ou para sempre, em Portugal a nossa rede de conhecimentos e amizade fica estável, cristalizada, por tempos indeterminados. Por isso, talvez, o conceito de amizade e da família está muito mais enraizado e somos mais ciganos na forma de ver os nossos e os outros. Por isso gostaria que escrevessem. Para acrescentar novas teias, novas redes de conhecimento e, quem sabe, de amizade.

sexta-feira, outubro 06, 2006



O deserto já não é o que era. Ou pelo menos nunca foi... Depois de cinco dias passados a fazer centenas de milhas, com mudanças automáticas, entre parques naturais lindíssimos, fazendo caminhadas fantásticas, ora abaixo do nível do mar, no local mais quente do planeta, rodeado por uma lagoa de sal inesquecível, ora passando dos 2 mil e quinentos metros, fazendo autêntico alpinismo, sobre uma falésia arrebatadora, agarrado apenas a um cabo de aço... Como dizia, depois deste tempo todo a ouvir-me apenas a mim próprio, ao meu ipod, ao turbulento ruído do tecto de abrir, continuo igual. Nem tirar nem por. Nem dúvidas filosóficas, nem temores existenciais, nem questionares metafísicos, nem incertezas futuras. Nada. A única coisa que está mais apurada é mesmo a relação com a máquina fotográfica... Confundindo os presets todos, claro. E esquecendo de voltar a colocar as definições iniciais depois de fazer qualquer alteração. Assim, saem dezenas de fotografias com um ASA 800, outras com uma correcção de sobre-exposição, outras de sub-exposição, outras em que me esqueci do autofocus e por aí em diante. A vantagem mesmo é que a máquina é boa e os restantes automatismos corrigem a azelhice do fotógrafo e depois as paisagens são o que são. Esmagadoras.

O facto de passear pela américa um pouco mais profunda, das estradas intermináveis, dos cruzamentos sempre iguais, polvilhados de macdonals, wendys, walmarts ou walgreens, de parques e parques para autocaravanas ou roulotes, de atravessar a I-15 onde ultrapassei mais camiões TIR que estabeleciam a ponte Sal Lake City-Las Vegas- Los Angeles do que no resto da minha vida, de cruzar a mítica estrada 66, de comer apple pies em lanchonetes ou uns ovos mexidos num restaurante estafado, de servir um café numa qualquer bomba de gasolina anódina em que inevitavelmente os empregados não percebem uma palavra de inglês e não sabem indicar uma direcção credível para o pedido de informação mais simples do mundo, tem também recompensas. Ontem num café no sopé do Zion National Park, a empregada ofereceu-me o café. Porque sim, respondeu. Apeteceu-lhe. E eu fiquei sem jeito. Hoje, escrevo a beber um vinho de Bordeux, oferecido por um jovem holandês que trabalha num motel junto ao Joshua Tree. Após ter-me possibilitado ficar no último quarto disponível, uma suite de 150 dólares que ele converteu em 75. Depois de me ter perdido, de ter guiado mais de 700 km, sendo que os últimos 100 foram particularmente penosos pois não sabia se estava no sentido certo (sim pode-se dizer que tive cinquenta por cento de sorte... para compensar os 5 dólares “perdidos” no jogo de Las Vegas), foi particularmente recompensador. Isso, e uma fotografia duma árvore Joshua, ao luar, um luar de letras grandes, garrafais, pleno, como só pode ser no deserto, a lua cheia, sem nuvens.

terça-feira, outubro 03, 2006


For two and half days several great friends came with me to Las Vegas and Grand Canyon to celebrate my farewell. They had to deal with a lost connection flight, the lights and hedonism of Las Vegas, several hours driving each way, a fire in Grand Canyon and a 2-3 hours hike in a narrow path near a huge cliff (yes, two have vertigo).
Thank you...