domingo, maio 27, 2007


Os últimos dias têm também servido para fazer as honras da casa. Com amigos vindos do Porto e São Francisco. Com jantares e brunches, espectáculos de qualidade algo duvidosa e muito, muito calor.

Apesar de estar anestesiado pelo cansaço, por uma carapaça de quem tem que acelerar todos os dias e de costumar dizer e escrever que não sinto saudades, dei por mim a contar os minutos para rever as gentes do outro lado da Califórnia. Talvez porque serão sempre escassas as oportunidades de voltar a vê-los. E porque tive a sorte de ter encontrado gente boa por aqueles lados. O jantar de quinta foi então algo especial, entre amigos, entre família que se gosta, mesmo não falando há largos meses.

O brunch de sábado foi surreal, num restaurante da Chinatown, com dimensões megalómanas, quase pavilhão, com escadas rolantes, quase kitsch, pindérico mesmo, toalhas rosa choque, cadeiras amarelas, empregados de várias fardas e hierarquias, inglês ininteligível, comida chinesa de Hong Kong. Traziam carrinhos à mesa, com todo o tipo de cestos e cestinhas, com comidas entre o pior e o menos mau. O Eric, de ascendência chinesa, teve que escolher entre os bolos, bolinhos, crepes, massas, formas gordurosas, entre molhos vários. Passei umas das especialidades, as patas de galinha.

Fica por contar o espectáculo de fim de tarde, numa igreja quase anexa ao Lincoln Center, abafada, circulação de ar nula, com música instrumental algo monótona, que irritou alguns de nós e que me induziu num estado estupuroso, hipnótico, quase doentio, que foi quase a melhor maneira de concluir a leitura do Austerlitz. O romance é assim mesmo, negro, kafkiano, claustrofóbico, sobre a busca das raízes perdidas, sobre os sentimentos de culpa de quem foi arrancado aos pais aos quatro ou cinco anos de idade. Uma das peças de ontem pretende evocar essas mesmas raízes. Foi composta por um judeu que, em tenra idade, teve que viajar de comboio entre Los Angeles e Nova Iorque, na companhia da ama, em virtudes da custódia repartida entre os pais. Uma vez que essas longas viagens de comboio ocorreram na época das deportações do Holocausto, o compositor misturou sons dos comboios europeus da altura, relatos de sobreviventes, conversas com a ama, com um invólucro quase doentio de instrumentos de cordas. Em Nova Iorque ainda se vive, ainda se fala, ainda se respira Holocausto. Sente-se ao virar da esquina ou da página do jornal, num livro ou blog que se leia.

Sufjan Stevens - Chicago

3 comentários:

Anónimo disse...

È muito considerado entre os do meio .Oportunamente tentarei outro título .Quem sabe em estado pós 22 TACs e um sermão da besta.

Rui Cunha disse...

Numa antecipação ao "Chato do Costume"

Artist: Sufjan Stevens
Title: Chicago
Album: Illinois

I fell in love again
all things go, all things go
drove to Chicago
all things know, all things know
we sold our clothes to the state
I don't mind, I don't mind
I made a lot of mistakes
in my mind, in my mind

you came to take us
all things go, all things go
to recreate us
all things grow, all things grow
we had our mindset
all things know, all things know
you had to find it
all things go, all things go

I drove to New York
in a van, with my friend
we slept in parking lots
I don't mind, I don't mind
I was in love with the place
in my mind, in my mind
I made a lot of mistakes
in my mind, in my mind

you came to take us
all things go, all things go
to recreate us
all things grow, all things grow
we had our mindset
all things know, all things know
you had to find it
all things go, all things go

if I was crying
in the van, with my friend
it was for freedom
from myself and from the land
I made a lot of mistakes
I made a lot of mistakes
I made a lot of mistakes
I made a lot of mistakes

you came to take us
all things go, all things go
to recreate us
all things grow, all things grow
we had our mindset
all things know, all things know
you had to find it
all things go, all things go

you came to take us
all things go, all things go
to recreate us
all things grow, all things grow
we had our mindset
(I made a lot of mistakes)
all things know, all things know
(I made a lot of mistakes)
you had to find it
(I made a lot of mistakes)
all things go, all things go
(I made a lot of mistakes)

Anónimo disse...

Obrigado pá!
Já me descobriram a fonte, mas...
I don´t mind I don´t mind...
I made a lot of mistakes
in my mind, in my mind...