Prémio Manifesto do Que Me Espera
Comparando com o ano passado, as regras são agora completamente diferentes. Não tenho medo dos serviços de imigração. Da cidade. Das pessoas que me vão receber. Do apartamento ou do senhorio. Não vou ter os dias de quarentena que tive em São Francisco em que passei os primeiros dias e fins de semana sem falar com ninguém. Vingava-me na net ou no blog. Durante dias as minhas únicas conversas ficavam-se pelos pedidos de café ou bagels. Apesar de já na altura ser um emigrante de luxo, foram uns primeiros tempos dolorosos. Que assustaram quanto à dificuldade de enganar o tempo. De fintar a solidão. Agora espero algo completamente diferente.
Vou ter a companhia da Joana. Levo-lhe um carregamento de um quilo de chocolates. Encomenda dos pais. Ficará aquém das saudades destes, mas penso que permite já ter uma noção aproximada da falta que faz na Avenida dos Caçadores e lá para os lados da Asperela.
Vou ser recebido por um workaholic. Por um judeu fanático, com sapatinho com favela de brilhantes, pronúncia estranha e fanhoso. Com centenas de artigos publicados. Um homem que queria que me fosse encontrar com ele no próprio dia da viagem, isto é, depois de um voo intercontinental, do departamento de imigração, dos controlos alfandegários, da fila de espera de uma hora por um táxi, que teve que ser partilhado, nojento, com restos de pickle nos assentos, em que as malas iam presas na bagageira por uma corda foleira, sob a inclemência de um nevão, entre duas horas de “pára arranca”.
Cuidem bem do Sr Feliciano e da Maria. Qual é o neto que se pode gabar de ter um avô que lhe prepara o pequeno-almoço, que é responsável pelas cadelas rafeiras e que muitas vezes lhe cozinhou um peixe cozido, um bife a cavalo com deliciosas batatas fritas? Quanto à Maria, quase não é preciso escrever....
Vou viver durante uns tempos em Nova Iorque. A Nova Iorque a preto e branco de Manhattan do Woody Allen. A da 25a hora de Spike Lee. Dos Padrinhos e Godfellas. Da Rosa Púrpura do Cairo. É a minha terceira vez. Mas a primeira em que assento poeira por estes lados. Tenho a sorte de já ter vivido por temporadas generosas em locais fantásticos. Foram 3 meses em Sidney, meio ano em São Francisco e agora Nova Iorque. Tive sorte de conseguir conciliar os estudos, a formação, com o vício, a paixão, a necessidade de viajar... Coitados dos que ficam, que depois têm de aguentar com as estórias, os apontamentos, as graçolas ou recordações, repetidos até a exaustão!
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