sexta-feira, setembro 15, 2006

Prémio Ser Médico no Século XXI

Tom Waits :
I practice at home, on the kids. Interestingly enough, there are a lot of musicians who are 
also doctors, or a lot of doctors who are also musicians. There is a connection. Surgeons work in 
a theatre, and they call it a theatre. All medical procedures require two hands, so in a sense it's 
like when you play an instrument. That's what they call things that they use in their work: They 
call them instruments. I've played with a lot of musicians who are also doctors. I worked with a 
bass player who was a doctor. You know, I suppose there is a connection. A lot of people start 
out majoring in medicine and drop it and change their major to music. I don't know, it's just one of 
those things. "



Cada vez mais o médico é menos artista. Refém das referências enciclopédicas, da informação em tempo real da Internet e dos novos estudos, protocolos de diagnóstico ou guidelines terapêuticos. Faz parte do estado da arte estar actualizado e falar a mesma linguagem dos artigos, das revisões e, claro, dos colegas da mesma ou diferentes especialidades. Isso obriga a um esforço que se quer sério de actualização e aprendizagem A informação está em toda a parte. Nos calhamaços dos tratados. Em livros de bolso. Em palmtops. Na internet.
O carácter do raciocínio, de “imaginação” ou da própria “ arte” que poderia estar inerente à medicina em tempos idos tem-se desvanecido e transformado num componente maioritariamente técnico e mecanizado. Muitas vezes melhor para a generalidade da praxis médica, mas pior para o médico que perde o carácter inventivo, imaginativo e libertador da profissão.

No entanto, por muita informação, muito protocolo, muita orientação, muito livro, há sempre quem faça mais com a informação que tem. Muitas vezes é um estado de atitude crítica perante as informações que chegam, cruzadas e desviantes. É um manter da pulga atrás da orelha. É um pouco de imaginação, não sei. É esta postura que permite que se consiga desmontar diagnósticos, repartir e baralhar de novo os diferentes achados por forma a ajudar a orientar verdadeiramente os doentes. Muitas vezes, poderá ser o que faz a diferença em 5 por cento dos doentes ou das doenças.

Acontece que esta necessidade de apego às regras e ao estado da arte, leva a que a actividade médica se torne menos estimulante. E quando se pergunta aos médicos em geral que mais gostariam de ser, a grande maioria que eu conheço gostaria de algo criativo. Talvez porque a medicina é cada vez isso mesmo. Tira a liberdade pessoal de raciocinar. Obriga a pensar em termos de probabilidades, de riscos, formas de se ser rigoroso e eficaz. Muitas vezes faz falta a liberdade de criar. De desmontar paradigmas. De fazer algo por nós próprios. Talvez por isso haja tantos médicos artistas, escritores, pintores. Torna-se mais fácil sê-lo, também. O contacto com muita gente. Muitas conversas. Impressões. Confissões. Relatos. Sofrimento. Pequenas vitórias. Grandes vitórias. Fé ou desespero. Estados de dependência e entrega absoluta. Tudo isto pode constituir um arsenal extraordinário de experiências extraordinárias. Depois, bastam os 5 % de inspiração, dado que o resto da transpiração está já lá.

5 comentários:

Anónimo disse...

Futuro-Médico e robô mesma coisa.

Anónimo disse...

Outro texto que me deixa estupefacta em diversos aspectos que não dão para descrever.Quem assim pensa é diferente de outros profissionais. "Se futuro médico e robô são a mesma coisa", deixemos a medicina e procuremos as alternativas... O Sistema impõe... mas compete a cada um de nós dar-lhe a volta... Muitos dos teus amigos conheceram através deste blogger um Dr. Rui que desconheciam... Cuidado no regresso, o teu BRILHO pode incomodar o alheio.PROTEGE_TE

Anónimo disse...

5% de inspiração v.s 95% de transpiração?!
Não concordo com esta metáfora roubada à "gíria halucinada do Futebol" - palavras sábias do Dr. Cardoso, práticamente anónimas, que aqui reproduzo, com a conveniente vénia...
As estimativas do nível de suor no Serviço de Radiologia do HSJ, rondam os 99%. Só na última semana o nível baixou para os 60%. A Prof, ausente na África do Sul, ainda não deve saber desta deplorável queda dos índices... esperemos que com o regresso do Dr. Nelson, a normalidade seja reposta!...

Anónimo disse...

Não gosto de ser tomado por anónimo, que esse cara é "persona non grata" neste blog...
Por isso esse J anterior é meu...enfim que é que se faz só com 1% de inspiração?

Anónimo disse...

A falta se senso entre outras coisas leva a reacões como a dos nossos irmãos do islão face as idiotices do outro irmão do vaticano.Perdoaisenhor!