Médias de entrada mais altas
183,0 Medicina na Universidade do Minho
181,5 Medicina no Inst. Ciências Biomédicas Abel Salazar
181,0 Medicina na Fac. Medicina na Universidade do Porto
Muito boa gente deverá ter entrado em estado de choque. Ou caiu da cátedra. Pode ser que seja ainda melhor que um Choque Tecnológico.
Depois de 6 meses por estas bandas, ainda vai ser mais difícil lidar com as pequenas e grandes vaidades, os feudos, o imobilismo, o jogo de bastidores e a burocracia que emperra o funcionamento de quase todos os serviços públicos portugueses.
Apesar de me encontrar fechado nas salas de leitura de exames dos diferentes secções de abdominal ou tórax, consegui ter uma noção do avanço tecnológico e da agressividade diagnóstica e terapêutica que eles colocam em cada doente. A quantidade de transplantes pulmonares, hepáticos, renais ou pancreáticos, o número de PET-CT diário, os follow-up de lesões pulmonares em intervalos de 3 meses, o uso de ablação por radiofrequência, de filtros da veia cava, stents biliares ou pancreáticos, o rastreio agressivo dos doentes com cirrose ou hepatites víricas, derivações digestivas várias, próteses penianas para manutenção da potência, procedimentos de quimioembolização arterial, estudos pré-transplante em dador vivo, o elevado número de doenças intersticiais pulmonares com diagnóstico estabelecido e a velocidade com que se parte para a broncoscopia e biopsia, comprovam-no.
Com isto quero dizer que não é propriamente a Radiologia, até por que os diagnósticos são iguais em todo o lado, mas a medicina em geral que está noutro patamar. Os fundos parecem ilimitados e o investimento em cada doente, por muito doente que esteja, é impressionante. O trabalho em equipa, a comunicação entre as diferentes especialidades funciona claramente melhor (se se pretende contactar o médico Y do doente X em Portugal, perde-se 10 minutos para ser atendido para a telefonista, 5 minutos para atenderem na Medicina A, afinal o doutor está hoje na Medicina B, depois está na consulta mas deslocou-se à Urgência, vão tentar saber o número do telemóvel, está desligado, não atende, não é dia de estar no hospital. Perde-se literalmente meia hora, fica-se mal disposto pois não se adiantou nada e entretanto temos já 2 ou 3 TCs atrasadas).
Necessariamente esta dinâmica traduz-se depois na Radiologia. A obrigação de qualidade, de precisão, a exigência de responder ao pormenor implica necessariamente com melhor capacidade de resposta. E o facto de serem muitos mais e todos eles especializados numa área restrita, trabalhando exclusivamente no sistema hospitalar, com ensino e investigação nas respectivas áreas (sim, a investigação e a publicação científica não é só estimulada como quase obrigatória. É uma garantia de qualidade e publicidade ao serviço mas também, e talvez mais importante, de garantir fundos ao departamento com a concessão de subsídios e grants) faz a diferença. Até por que não acho que haja muita diferença entre os internos ou residentes. Eles estão mais habituados a falar em público, a discutir os doentes numa plateia, a enumerar os diagnósticos diferenciais plausíveis e os mais inverosímeis, e claro estão mais atentos ao detalhe e pormenor. Mas estão também menos habituados a pensar por eles próprios, tentando driblar as suas dificuldades, dado que, na grande maioria das vezes, têm sempre a bengala ao lado.
Depois disto, repito “Depois de 6 meses por estas bandas, ainda vai ser mais difícil lidar com as pequenas e grandes vaidades, os feudos, o imobilismo, o jogo de bastidores e a burocracia que emperra o funcionamento de quase todos os serviços públicos portugueses.”. Em muitas medidas, os hospitais portugueses parecem parados no tempo. É inadmissível fazerem-se várias bandas gástricas por semana e não se realizarem PET nos seguimentos dos linfomas ou não haver transplantes hepáticos. Só existe uma explicação, mas essa fica para vocês...
E apesar de diariamente contactar com líderes destacados nas respectivas áreas de interesse, só por uma vez senti aquele estatuto, aquele falar, aquele levantar de cabeça característico da professorite. Procurei o nome do ancião indiano com esse porte, cardiologista de profissão. Uma pesquisa rápida na Pubmed revelou que tinha mais de 400 artigos publicados. Tudo em revistas de top. Muitos de revisão para os quais é certamente convidado. Perante isso, tive que me render. Este pode...
sexta-feira, setembro 15, 2006
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7 comentários:
Braga na liderança, não me supreende e estou convencido que é para durar. Tem uma equipa mais jovem e dinâmica e com alguns reforços...
As médias, só por si,não têm qq significado no bom ou mau profissional, em meu entender. Há muitas maneiras de "matar pulgas" ou seja de obter médias.Os E. E. de uma turma que tive o ano passado, matricularam os seus educandos não na disciplina de francês como é usual, mas em espanhol, porquê, porquê... pais espertos! O futuro é incerto
Dr. Rui, Eureka!
A solução é "arranjar" a cada funcionário público um estágio de 6 meses em S. Francisco!
A solução do Dr Gonçalves iria rapidamente degenerar. Imagine-se então os funcionários em estágio, a desatarem a escrever no blog respectivo, os milhares de comentários, de respostas e contra-respostas, insinuações, as provocações anónimas, as recriminações, as centenas de vídeos, as dezenas de milhares de fotografias. A Internet na Asperela iria entupir. O Jacinto ia ficar às moscas. O hospital iria viver em permanente jet lag. Os doentes deixavam de saber a que horas era a alvorada. As visitas à enfermaria seriam erráticas. A limpeza descurada. O horário das visitas ampliado. As enfermeiras... Os auxiliares...
È, a culpa é do SISTEMA .
Há transplantes hepáticos a dez Km do S João.Há a dez desse hospital em S Francisco?
Sem querer ser advogada de defesa de nada...o que ouvi dizer foi: como existem actualmente 7 cursos de medicina em Portugal e 6 opções no momento da candidatura de acesso ao ensino superior...este ano devido à descida generalizada das notas por causa de exames desajustados a programas novos ou o que o valha...houve várias pessoas com média inferior à associada nos ultimos anos à FMUP que, pensando que não entrariam nesta, simplesmente a excluiram das opções...
É a resposta que esperava ouvir. Mas também é sabido que na primeira opção, deve estar aquilo que se quer mesmo. As outras opções serão para se assegurar que se entra... Quando foi a minha vez de escolher, coloquei a escola de Asperela em 2 opção. Depois das Biomédicas. Por topete, apenas. As pessoas que percebam que é muito possível outras preferências que não o HSJ. Continuo a aconselhar as Biomédicas, apesar do terror e desperdício de 50% do que é ensinado nos 3 primeiros anos. Foi lá que aprendi a raciocinar e a confiar sobretudo no que a ciência vai dizendo, seja sobre a forma de livros ou artigos. Prefiro isso ao bafio, preguiça e tiques caprichosos das sebentas e à arrogância da sobrecasaca.
Estou convencido que a professorite vai arranjar sempre desculpas. Ou culpas. Dos exames. Da descida das notas. Dos alunos que não sabem escolher. Nunca vão reconhecer os males que enfermam um hospital obviamente bicéfalo e sem rumo. No fundo fazem lembrar o Benfica. A culpa é do fora do jogo. Do árbitro. Dos adversários que só se esforçam quando jogam com a instituição. Do azar. Do que está escrito "no" dossier. Nunca tomaram consciência que os outros são melhores e lutam mais para serem melhores. Vá lá que continuam a aspirar a ser um colosso. O mesmo se passa no São João. Mas estou numa posição delicada. Sempre disse o que escrevo agora. Mas pelo facto de ter estado fora estes 6 meses, posso sempre ser interpretado como "Ele agora tem a mania". Seja. Mas compete aos mais novos mudar o estado das coisas. E eu até sou daqueles que tem amor à camisola...
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