domingo, setembro 24, 2006

Este foi último fim de semana em São Francisco. Já comecei a fazer as malas. Lamento a falta de tempo. E começo já a sentir saudades. Nunca personalizei muito, porque acho que não tenho o direito de falar das outras pessoas. A exposição do blog é minha e sou que tenho que a assumir. Gosto de deixar os outros em paz.

Julgo que fiz verdadeiros amigos por cá. Amigos que admiro pela sua bondade, por me terem sabido acolher e pela generosidade de me fazerem amigos dos seus amigos. Souberem mostrar-me um outro lado da cidade, os pequenos recantos, os restaurantes menos conhecidos, os cafés e cinemas preferidos. Souberam dar e receber. Acolheram de braços abertos os meus pais e o meu irmão. Jantámos inúmeras vezes. Tivemos muitas conversas. São amigos de São Francisco, por que inevitavelmente conheci-os cá. Mas independentemente das circunstâncias, seriam também amigos no Porto. Como diz o António, "são gente boa".

Sábado começou com um brunch, algo tipicamente americano, numa lanchonete das redondezas de dois coreanos simpatiquíssimos e os inevitáveis mexicanos. Nunca teria reparado naquele corredor feito restaurante se não fosse o Alexandre. Mas aprendi a gostar daquele lugar, daquela gente, da sua simplicidade. Depois seguiu-se um café, ou melhor dois cafés, no mesmo local onde perdi e recuperei o computador. O dono é um iraniano, dos seus cinquentas e tais, ar negligée, barba por fazer e cachimbo na boca. Tudo isto ao lado da Rita e do Alexandre. A tarde foi reservada para algum trabalho de despedida (uma banda sonora que tenho tentado fazer mas sem qualquer programa de mistura) e para preparação das malas e selecção do que é para ficar ou levar.

À noite houve aniversário. Brinde e jantar. Num restaurante indiano. Seguiu-se depois uma viagem até Twin Peaks, a zona mais alta de São Francisco. By night. Fomos de propósito. Por minha causa. Por insistência do Alexandre e do Cedric. Só posso agradecer. Mas penso que o melhor agradecimento foi mesmo a paisagem. Os milhares de luzes, os recortes, as sombras, os vultos ou perfis de sítios que aprendi a conhecer e a gostar neste último meio ano. Metade da cidade expunha-se, exibia-se, vaidosa, mas sempre naquele jeito sereno, calmo, tranquilo de São Francisco. Os cruzamentos perfeitos, o arvoredo das vizinhanças, um ou outro carro, este, aquele e aqueloutro montes, as colinas, as fachadas. A baía ao fundo, fechada na sua negritude, apenas violada pela pirotecnia da Bay Bridge e um pequeno farol em Alcatraz. A outra metade da cidade escondia-se. Por baixo de um nevoeiro cerrado, denso, espesso, com personalidade. Um nevoeiro que se transformava amarelo pelas iluminações que não deixava transparecer. Até que em minutos, primeiro através de uma luz, depois outra, depois uma ameia, uma torre, começava a antever-se a Igreja de Santo Inácio, da Universidade de São Francisco. Sem razão aparente, o manto amarelado, começou a dissolver-se, a recuar, fugindo daquele lugar. Começavam agora a ver-se o topo das árvores e todo aquele jogo de sombras, de texturas, quase ainda sem formas. Não ficaram fotografias ou diapositivos. Também não acredito que fizessem jus à beleza do momento. No topo de São Francisco, em silêncio, com o vento mais generoso e complacente que o habitual, entre amigos que não sei quantas vezes mais voltarei a ver...

Domingo...

1 comentário:

Anónimo disse...

È assim ,elogia-se a escrita e o tipo desata a escrever um livro para dizer que foi mijar á esquina e ao luar...anda-te embora ,nós também te levamos a um indiano e a um japonez (até a leça já chegou a praga)O zé Miguel pôe barbas e faz de iraniano.OK? Aproveita os dias de deserto e pede perdão por esses dias nessa Sodoma do Norte.