Prémio O que é a Nossa Casa?
Se tiverem a pachorra de analisar alguns dos meus comentários antigos, irão reparar que no início me referia ao sítio onde moro, como a "casa". Assim, com aspas. Parecia-me desajustado dizer cheguei a casa. Não era a minha casa. Era um lugar de empréstimo. Temporário. De passagem.
E nem fiz nada para tornar o 1223A da Segunda Avenida mais meu. Não mudei móveis. Não pendurei nada. Não acrescentei fotografia ou o que quer que seja. Não mudei a disposição dos diferentes objectos. Nada.
Limitei-me a deixar a minha desorganização insinuar-se pela casa, e quando muito, deixar o meu cheiro e um ou outro objecto pelos cantos.
A única coisa que realmente impus foi a minha música.
De qualquer das formas, de uma forma surda, imperceptível, sem querer, a casa foi-se impondo. E agora já posso dizer a minha casa. Continua a ser temporária, de empréstimo ou de passagem. Agora com uns toques da minha mãe, que conseguiu, naquela geometria muito própria das mulheres, acrescentar-lhe uns metros quadrados e decorar a janela que é um vitral com fotos da família.
Mas é minha. No fundo, acrescentei uma casa, àquelas que tenho.
E sem ter comentado, registei uma frase do meu pai, quando regressávamos de LA, ao chegar a um das ruas principais de São Francisco: É engraçada esta sensação de chegar a casa, a milhares de quilómetros de distância.
Neste momento posso dizer que esta casa é minha. São Francisco também é um pouco minha. Os amigos são também meus. E sei que vou ter saudades daquilo que vou deixar cá.
Mas a vida é mesmo assim. Uma pessoa recebe tanto mais quanto dá. Também perde mais. Mas só se perde o que se ganhou. E posso dar-me por contente.
2 comentários:
É um prazer ter-te de volta.
Concordo com a tua decisão. A abertura a outros blogers até começou bem, mas de facto depois roçou a mediocridade.
Qual é ó Miguel ? Ironia?!Volta para o teu posto.
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