terça-feira, agosto 22, 2006

Prémio Finisterra Deste Oceano Pacífico




Sábado conduzimos pelas costa a norte de São Francisco. Fomos até Ponta Reyes, um enorme braço de terra, que corre paralelo à costa, estando para lá da falha de Santo André. Assim, num terramoto de proporções bíblicas, irá com certeza fazer-se ao mar, como jangada de pedra.

A costa é lindíssima. Mas de uma beleza opressiva, depressiva. Desolada e despojada. Sem vivalma durante milhas e milhas. Vegetação rasteira, a tender para a monocromia, mar azul plúmbeo. Nevoeiro, muito nevoeiro, um céu zangado. Vento cortante. Que verga, tomba de forma impiedosa as poucas árvores teimosas. Corvos, abutres e outras rapinas voam em círculos. Mar de um lado e do outro. Às vezes uma ou outra casa, um celeiro, um curral. O farol inevitável, trezentos degraus abaixo de um pontão impressionante, de onde se avistam agulhões rochosos, também eles tristonhos, ameaçadores, quase negros, rasgando o mar... Estão cobertos em parte pelos dejectos de algumas aves, seguramente malditas, que se servem do poiso.

É nestes sítios frios, agrestes, duros, que um café sabe mais a café, no conforto de um sofá, protegido por um vidro, a ver um corvo pousar no varandim e os albatrozes a cavar no mar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bravo! Um belo texto assumidamente literario .Tem ritmo .Belas metáforas.E devo dizer que li com franco espanto o «Plúmbeo» o meu livro do sêxto ano tinha uma citação de Olavo Bilac...creio.Desde essa altura acho que não tinha lido esse plúmbeo.Obrigado.Acho que devias escrever mais vezes assumidamente ficcão e não misturares com a realidade.È uma opinião claro!

Anónimo disse...

Plúmbeo?!
O meu colega de blog, do falecido mirabolantes não lia os textos dos seus colegas de blog, o que é grave...
Mas de resto, concordo com o que dizes, e olha, que no intervalo das miradas dos biquinis, tenho lido o insuperável Gabriel Garcia Marquez e o nosso Rui nalguns instantes lembrou-me o fulgor e a paixão do Colombiano...
Bravo Rui!