terça-feira, agosto 22, 2006

Prémio Não É Escritor Quem Quer

Agradeço os elogios aos últimos posts, mas isso representa uma grande responsabilidade. Que enjeito...
Não me aventurarei por trechos mais literários...

Falta preparação. Inspiração. Capacidade. Falta sensibilidade. Falta tempo, paciência e dedicação para deixar os textos repousarem, levedarem, crescerem quase por si, para depois serem aparados, limando as suas arestas.

Pode até haver esforço ou emoção, mas se faltar o resto, fica apenas a tentativa bacoca e despudorada de sonhar alto. Quando a passada é larga demais, o risco e a própria queda são necessariamente maiores.

Sou obrigado a optar por uma forma mais modesta de tentar descrever o ambiente geral ou particular da cidade e das suas gentes. E como este, e só este, português de gema se adapta a essa realidade. Sem grande engenho ou arte, sem grande subtileza ou depuração.

Sendo apenas eu próprio, imerso neste microcosmos em que aterrei.


Adenda:
Não se pode dizer que demore muito a escrever os textos. É uma constatação razoável, bastando para isso atentar para os erros dactilográficos, discordâncias de género, vírgulas e espaços pouco precisos. Mas isso faz parte dos 10 ou 20 minutos que dedico à execução da empreitada (por post).

O que me demora mais tempo é escolher o que vou escrever. Vou muitas vezes na rua encabulado, com algum pensamento recorrente, determinada característica que quero ver descrita e um ou outro personagem que pretendo verter para o papel. Isso é que geralmente me dá trabalho e obriga a algum método. Domingo passado, por exemplo, o meu irmão estranhava o meu silêncio. Esse aparente torpor resultava certamente da sonolência por ter estado a escrever até as 3 da manhã e do pouco café, mas também correspondia à génese do que puderam ver escrito depois... Outras vezes surge de rajada, de forma quase espontânea, natural ou imprevista, num cruzamento ou esquina, enquanto passeio de bicicleta, cabelos ao vento.

É verdade que nos últimos textos tenho tentado dar mais atenção à forma. À moldura. E concordo que muitas vezes é igualmente importante o que se diz e como se diz. Mas depurar a forma dá muito trabalho. É muito exigente. E esgotante. Obriga a uma releitura sistemática. Pequenas alterações. Grandes alterações. Apaga. Volta a escrever. Muda. Deixa ficar. Acrescenta pequenas nuances. Modifica a forma como a frase respira. Mais rápido. Lento. Assim não gosto. Está banal. Está arrevesado. Frases curtas. Incisivas. Frases longas. Marteladas. De perder o fôlego.

Com o blog e com todos os que têm a paciência para me ler, reaprendi o gosto pela escrita. Já há muitos anos que não escrevia. Apenas pontualmente. Gosto de escrever. Dá-me prazer. Mas dá também trabalho e obriga a uma disciplina e rigor que não estou habituado. E obriga-me sobretudo a estar desperto, analisar para o que se passa em redor com outro olhar, tentando cristalizar pormenores, pessoas, conversas, paisagens ou sensações.


Nota 2. Embora isto não seja uma corrida, um contra-relógio, tive a curiosidade de verificar a posteriori o tempo que coloquei a escrever a adenda. Foram 31 minutos. A escrever algo com o qual não estou propriament satisfeito. Paciência

5 comentários:

Anónimo disse...

Lá estás tu no teu pior ,a armar ao coitadinho.Ninguém te exige nada!Tu fazes melhor do que a maioria muitas coisas.Mas daí a que se espere que tudo que tu toques se transforme em ouro vai uma grande distancia.Quem gosta de escrever ,escreve.Se escreve e os outros gostam melhor ainda.Tu tens essa facilidade.A maioria ,eu incluido parimos um parágrafo anémico após transpiração e fumo pela cabeça.Quem ainda por cima diz que a escrita lhe faz bem...só tem mesmo é que escrever!Bom ,agora vamos a parte pior.A nossa admiração tem o valor que tem.Quem somos nós para estar a dizer
e tal e que não sei quê ...mas pronto!

Rui Cunha disse...

O que escrevi teve dois objectivos.

A primeira parte foi para explicar que me sentia lisonjeado, mas que achava, e acho, que não tenho assim tanta arte. Serve para escrever dois ou três parágrafos, de vez em quando. Mas depois, a fonte seca ou a musa inspiradora não é suficientemente capaz! E, por isso, queria deixar claro que o mais provável é que os meus relatos voltem à mediania habitual. Não os queria deixar com expectativas infundadas, evitando assim desilusões. Só se desilude quem se ilude!!! Sem falsas modéstias, não tenho background ou sustentação literária ou cultural para grandes brilharetes. Desde que aqui estou, leio bastantes jornais ou blogs, mas ainda não li uma página sequer de um livro. Tenho privilegiado a cidade, os amigos e inevitavelmente a Medicina. E nesse aspecto, suspiro para que chegue o exame. Para ter tempo para fazer tantas outras coisas. E fazê-lo sem transportar a culpa que ficou algo por fazer, algo por estudar, algo para rever.

A segunda parte serviu para descrever o meu processo criativo. O que custa mais ou menos. Como as ideias germinam e são paridas. Como tenho prazer em escrever mas também, como em todos os partos, as dificuldades, condicionantes e sofrimento que acarreta.

Anónimo disse...

Tudo bem.Fico na minha.A polemica existe :O autor tem de viver para depois escrever ? Borges dizia que o mundo era a sua biblioteca.A escrita da ficcão pode decorrer do talento sem ser necessário a experiencia.Sei lá!Só quero dizer que deves escrever sem pensar no leitor...depois se vê.Anda-te embora.

Anónimo disse...

Daqui a uns anos quando o Rui Cunha gozar os louros do reconhecimento literário, o Nelson Moura tem aqui a prova de que vislumbrou o génio antes dele se manifestar.
Qual é, cara? Nós dizemos sempre bem de quem gostamos,os nossos filhos são os maiores no futebol, as nossas filhas vão ser misses, as nosssas mulheres depois de umas plásticas e silicones, estão aí como novas...
Ó Rui, tu és o maior pá eu não quero ficar de fora do círculo de priveligiados, que vão usufruir do teu talento...pá arranja-me um tacho...
Eu até pago um euro neste hotel para te dizer isso...vai em frente!

Anónimo disse...

Partilho inteiramente a opinião dos Drs. E porque não dizer que sempre foste um excelente aluno. Ainda hoje os meus colegas falam de ti como aluno exemplar. Desde muito jovens, sempre demonstraste possuir uma imaginação e criatividade fora do comum!
Continua...