Estão chegados ao fim os tempos de Vancouver. Uma cidade bonita, easy living, com óptimos parques, jardins, bosques, piscinas ao ar livre, arquitectura maioritariamente de vidro e emoldurada permanentemente pelas montanhas e picos nevados à distância.
Tal como San-Fran (como os locais daqui chamam a São Francisco) temos novamente as ruas cheias de vida, pessoas a passear no parque, a ler livros, a passear os filhos, imensos miúdos, a ouvir música, a conversar, a namorar, a namoriscar, a ressacar, o que quer que seja.
Costumava dizer que os países da terceiro mundo e particularmente os do hemisférios sul são muito mais apelativos, pela diversidade das cores, dos cheiros, dos sons, pelo ritmo alucinante de tudo. Como paradigma dessa agitação sugeria os souks de Marrocos, deles o mais bonito o de Marrakech, ou o mercado de Otavalo no Equador.
Embora de uma forma mais calma, racional, regrada, Vancouver e São Francisco conseguem ser igualmente excitantes. Com a sua quantidade impressionante de culturas, de origens, aparentemente bem misturadas e integradas, só pode ser assim mesmo, não?
Não sei porque sinto tanta diferença para o Porto.
San Francisco e Vancouver são muitas vezes oposto do que temos na nossa cidade.
Uma cidade vazia, entregue aos semáforos, carros, arrumadores, pombos e pouco mais. Ruas com graffitis, com algum lixo, deserta, com umas quantas pastelarias, confeitarias, cafés e lanchonetes. Todos eles iguais com as mesmas cadeiras mixurucas, os mesmos balcões de vidro, com as mesmas vitrinas, repletas dos mesmos frisumos, coca-colas e afins, com as mesmas quantas garrafas empoeiradas como bibelô, e para consumo exclusivo do estabelecimento... Uma cidade cujo epicentro é a VCI e os shoppings de Gaia e Matosinhos.
Andamos todos mesmo tristonhos, dentro do carro, a ouvir o Pessoal e Transmissível ou a Bola Branca, a fazer contas à crise, à vida, ao défice, à inflação, ao desemprego, ao leasing do carro, à gasolina, presos a uma qualquer hipoteca de um qualquer apartamento de um qualquer subúrbio, com medo dos juros, do condomínio, do IRS, do desemprego ou das listas de espera.
A cidade está parada, estagnada, não existe. Que raio de cidade existe sem pessoas?
Por aqui vemos as pessoas a correr, andar de bicicleta, jogging, patins em linha, natação, o que quer que seja. Mas passeiam. Estão nas ruas. Enchem os cafés. Compra-se. Vende-se. Ouve-se barulho. Vê-se gente. Ouvem-se gargalhadas ou imprecações. Sente-se vida. Em comunidade, e não apenas atrás das portas de um qualquer apartamento, num qualquer andar, num qualquer subúrbio, filtradas por uma qualquer telenovela ou telejornal.
segunda-feira, maio 08, 2006
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6 comentários:
Ola caro Rui:
Acabei de chegar a casa, vindo de autocarro....estava tudo na rua, parecia feriado...rua cheias de pessoas e de bicicletas, esplanadas a abarrotar, jardins a transbordar de gente..tal qual tu falas de Vancouver. Acho que o problema do Porto somos todos nós: adoramos o carro e de estacionar á porta. Porque será que os cinemas da baixa fecharam? Quanto aos politicos fomos nós que os escolhemos e gde parte deles corruptos. Outra das causas é o pilim ($$). Em Portugal toda a gente quer ganhar mais e mais $$, tardes, noites e fins de semana, por isso nâo sobra muito tempo para esplanada e familias. Ficas a saber que aqui um ordenado de 500ctos limpos é mto, mto bom!..com casas de 70m2 a custar 100.00cts!!
Acho que o nosso problema é deitarmos a culpa sempre pro arbito!!
Um abraço
Olá Rui!
Tou com o Xico! A nossa realidade é a nossa imagem. O Porto não é diferente, nem pior. Nós é que bebemos cocacola, comemos hamburgueres, guiamos solitariamente o nosso carro, não sabemos o nome dos vizinhos, escondemo-nos em bunkers... Vivemos sem interioridade, ou seja, de fora para dentro. Somos assim... no Porto, em Vancouver, em San Fran.
Cabe-nos dar outra interpretação à realidade e assim vivê-la de modo diferente.
GRAZZIE
Em compensação ninguem nos ganha em consumo de anti depressivos .Já pensaram nisso? acho que nos vendem os fora de prazo ou chineses ,o lógico era que passassemos o dia a cantar e não boleros mas não ,gostamos de choradeira mas atencão! Tiramos prazer disso ,prazer e poesia porra!mas não exagerem com essa de passar odia na rua.Os sem abrigo curtem essa e nem sempre estão felizes...!provavelmente não lhes explicaram a filosofia subjacente...
Muito bem, 100% com o comentador xico e anonymous... Sabem de quem a culpa?! É toda minha e também do xico do rui e tua (se vives em Portugal e no Porto) que estás a ler o meu comentário! A "culpa" é minha e nossa e, sobretudo, do nosso "medo". É óptimo refugiarmo-nos atrás do computador, não é?!Penso que a baixa da Invicta bateu no fundo (salvam-se as tarde quentes e domingueiras do calçadão de Matosinhos e da Foz)... Cabe-nos a nós fazer a diferença...
Um abraço...
Hoje quis comprar rosas vermelhas, descobri uma florista cá em matosinhos e lá fui e voltei de bicicleta... com as rosas improvisadas num saco pendurado no guiador, enquanto pedalava senti-me alvo de todos os olhares, velhotes de sueca, condutor@s boquiabertos, adolescent@s com sorriso timidamente atrevido... inicialmente senti-me bizarro, como se andasse pelas ruas de pijama... mas depois acostumei-me, e esforcei-me por pensar que aqueles olhares reprovavam o facto de me meter nos sentidos proibidos... durou 5 minutos de eternidade. Havia muita gente na rua como é habitual, zum-zum nas lojas, ambiente familiar, certamente, sem a diversidade de s. fran, mas bem mais simpático e natural que downtown porto, ou predial valongo e quejandos.
Também depende de nós. Mas não só.
Por aqui, sou fã do metro de porto e parque da cidade.
Concordo com o amigo que gamou as flores.E aliás tambem gosto à do parque da cidade e do metro .Devo dizer no entanto que para o negocio nada bate um campo de futebol cheio as carteiras saltam como trutas dos bolsos dos otarios.
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