Quando escrevi milhões de almas solitárias não pretendi ceder à tentação poética. E sabia o risco de parecer pindérico. Nestas cidades gigantescas a solidão é enorme. Brutal, mesmo. Pela dimensão da cidade, pela agressividade competitiva do emprego, pela ausência de vínculos sociais, pela inexistência de raízes, pela fragmentação das famílias.
E numa sociedade americana de imigrantes e migrantes, que vivem em terras diferentes daquelas onde estudaram e daquelas outras onde nasceram, este fenómeno torna-se mais visível.
Acresce a isto a pressão social da busca pelo sucesso. E o sucesso na América é o sucesso pessoal. É o Santo Graal desta gente. Ou se é bem sucedido ou não se é ninguém. E não dá sequer para olhar para trás com risco de ficar fora da corrida. E é a pressão dos media e da sociedade para se ser saudável. Elegante. Bonito. Com riso e pele imaculados. As pessoas não podem ser elas próprias. Têm que ser o que a sociedade espera que sejam.
E a tudo isto respondem com produtividade. E rentabilidade. E uma carapaça de simpatia de espessura mínima. Que os leva a ser agradáveis e corteses nos primeiros cinco minutos. Mas que se esboroa logo a seguir, depois de esgotados os “awesomes” e os “amazing” da praxe.
Talvez por isso proliferem as empresas de encontros ou “datings”. E meio mundo se refugie nos auscultadores e óculos de sol. Seja evidente a dificuldade em lidar com a proximidade nos elevadores ou metro. Haja uma relação quase humana com a cachorrada, que tem direito a guarda roupa completo, hidroginástica e sessões de relaxamento. Haja frenéticos a consultar o email em todo o lugar público, quem vá no autocarro a ver televisão e quem esteja a jogar jogos de computador nos cafés.
domingo, maio 13, 2007
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8 comentários:
Não precisavas de acrescentar nada ao que tinhas escrito no "post" anterior.
O dilema da escrita está na tentação de escrever o que nos pedem que escrevamos.
Quando pretensamente deslizas para a poesia , há logo uns quantos cromos do positivismo actual, que só lêem crónicas, reportagens e editoriais jornalísticos, que se apressam logo a torcer o nariz, pois tu não estás a corresponder ao que eles esperam de ti.
E o que eles esperam de ti?
E o que eles esperam de ti?
Que não digas merdas como "almas solitárias"...
É uma expressão já muito "batida", que até ficaria bem numa letra do Tony Carreira.
Mas no texto que escreveste, todas as palavras têm o peso certo e são ditas como são sentidas.
Ora, esta autenticidade é dispensável e até perigosa - lembram-se da famigerada "exposição" - nestes tempos de aparências...
"Nunca chegamos ao fundo da nossa solidão."
Georges Bernanos
Não foi para acrescentar. Foi para aproveitar uma crítica que eu próprio senti. E serviu para escrever outro post. Nem sempre é fácil decidir sobre o que escrever. Por isso, se tenho um assunto para explorar, óptimo!
Bom ,finalmente uma saudavel polémica.Só por isso já valeu a pena.Creio que a crítica que fiz não visava o conteúdo,o sentimento.Há muito que não ponho em causa a autenticidade dos mesmos no autor.Falamos de outra coisa e ele sabe .Falamos da forma que é o motivo mais nobre da escrita(mais polémica)é creio o que tenta o Homem a escrever outra vez após esgotar o pouco que tem para acrescentar ao que se escreveu antes sobre tudo.Entendido?Uma idéia é uma idéia mas pode ser escrita de muitas formas ,como a música e aí sim entramos em Tony Carreira ou não.
Creio que é uma questão de escala.Solidão com muita gente .Aldeia ,Alentejo,Velhos.Só se houver "Mutantes" nos salvaremos do futuro,se houver
. E será importante que haja?
Creio que é uma questão de escala.Solidão com muita gente .Aldeia ,Alentejo,Velhos.Só se houver "Mutantes" nos salvaremos do futuro,se houver
. E será importante que haja?
Já percebemos, okay?
Escusas de ser repetitivo!!!
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