quarta-feira, abril 25, 2007


Tentei ser simpático. Cortês. Será que foi o café que se inquietou? O copo tremeu? Um espírito dos elevadores? Foi o suspiro de um dos vizinhos de viagem? Terá sido por contrariar a minha natureza? Ou foi a minha inevitável tendência para ser desastrado? Azarado? Distraído?

Levanto-me quase sempre primeiro que a minha colega de apartamento. Desvantagens de quem trabalha mais longe e tem reuniões mais cedo. Que não ter que fazer (ou desfazer) a barba e ajeitar o nó à gravata...

Antes de disparar para o hospital, passo no vigésimo nono piso. Para engolir uma bagel, roubar uma peça de fruta. E acordar verdadeiramente com meio litro de café. Que vou sorvendo pelo elevador, passeios e metro. Tudo cronometrado. Tudo ao segundo.
Hoje como a reunião foi cancelada dormi um pouco mais. E com uma folga nos minutos do relógio, decidi ser magnânime e enchi mais um copo de café e tostei uma Bagel. Para a Joana que ainda dormia.

Pois bem, a bondade foi demais. Dir-se-ia mesmo que transbordou. Entornou. No elevador. Nas calças da pessoa ao lado. Foi café. Foi Bagel. Foi adoçante. Foi tudo. Só ficou a vergonha. E a desculpa embaraçada... É o que dá ser simpático e levar o pequeno almoço a alguém. As outras pessoas sorriram, que aquela hora da manhã e o caso eram impróprios para grandes risos.

Ficou falsamente aliviada a mulher da calça manchada pois, naqueles instantes, terá sido a única a não reparar que o meu excesso de bondade tinha-a mesmo atingido...

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