Prémio Americanices
Americanices…
Dezenas de carros da polícia, com a parafernália luminosa no seu esplendor, em Times Square, todos aprumadinhos, paralelos, de esquina para o passeio, de um e do outro lado da rua. Polícias dentro e fora dos carros, confraternizando com os americanos orgulhosos e os turistas aparvalhados. Quando digo dezenas, não é por força de expressão. Nem mania das grandezas. Nunca tinha visto tanto “policial” junto. Segundo soube, não passou disso mesmo. Americanices. Exibição. Ou publicidade. Rotina. Da NYPD. Na hora da retirada, imitaram aquelas meninas da natação sincronizada. Sem aquele sorriso idiota, mas igual precisão. Carrinhos um a um, os deste lado para a direita, os outros para esquerda, em ritmo cronometrado.
Americanices II…
Há elevadores e elevadores. Este era americano em todo o seu esplendor. Um cromado sem mácula. Tamanho qb. Televisão. Ou computador. Ou híbrido. Com notícias gerais. Bolsa. Meteorologia. Ainda bem... Imaginem que desperdiçava os 20, 30 segundos que demorei a chegar ao 16º piso! Já para não falar no regresso à Terra...
Americanices III…
Na estação de metro de Times Square vi aquilo que poderia encontrar na medina de Meknes, numa aldeia perdida dos Andes ou num mercado do Sudoeste Asiático. Numa daquelas tabacarias manhosas, um empregado paquistanês, indiano ou do Bangladesh assistia um dos clientes no funcionamento de uma máquina bafienta e artesanal de plástico. Sim. Debaixo de terra, na estação de metro mais concorrida desta cidade de 10 milhões de habitantes, com milhares de pessoas a convergirem e divergirem por minuto, naquela encruzilhada de vias pedonais, acessos múltiplos a múltiplas linhas de metro, palco para artistas em projecto, acções de protesto, evangelizadores, pedintes e carteiristas, turistas em passo mais vagaroso e dissonante, em plena hora de ponta, quando o cansaço pesa já toneladas sobre milhares de rostos e ombros anónimos, um qualquer cidadão sul-americano encostava-se ao balcão da dita tabacaria, com uma máscara de oxigénio, fazendo ao mesmo tempo uma nebulização, enquanto assumia o papel de mirone e prestava-se, ele próprio, ao voyeurismo dum português sem câmara fotográfica.
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