Prémio Não Lembrava Nem Ao Gato Fedorento...
Excerto de crónica de José Vitor Malheiros, Público, onde reproduz excertos de conversa com um taxista...
"Sabe o que é eu gostava?" Não sabia, mas a resposta não foi inesperada: "O que eu gostava era de ganhar o Euromilhões!" Mas antes que tivesse tempo de responder que com um prémio do Euromilhões se pode de facto comprar um belo quiosque... "Se eu ganhasse o Euromilhões, era ainda pior que o Bin Laden... Estes gajos todos haviam de ver... havia de rebentar com eles todos à bomba." A voz tinha subido de tom e o rubor de intensidade. "Era mais terrorista que a Al-Qaeda. Eles haviam de ver! O Bin Laden ainda é bom para eles." A cólera não permitia águas na fervura do género: "De facto, isso é muito chato, mas o importante..." Deixei o gás sair até chegar ao destino, reagindo com um mínimo de monossílabos, mas o fervor radical não tinha diminuído mesmo depois da corrida paga. "A sorte deles é que eu tenho contas para pagar e uma família para sustentar. O Bin Laden, esse pode, porque é rico! Mas eu tenho de andar aqui o dia todo agarrado à roda para ganhar o sustento. Mas se eu tivesse dinheiro... ai, se eu tivesse dinheiro, o terrorista que eu não havia de ser!" Não havia um fio de ironia na voz. Que as circunstâncias fazem o terrorista já se sabe, mas era a primeira vez que me tinha cruzado com uma vocação tão fervorosa frustrada pela falta de dinheiro e com uma utilização tão original de um prémio do Euromilhões. Era a primeira vez que me cruzava com alguém que só não era terrorista porque não tinha dinheiro para isso.
2 comentários:
Esta situação absurda, já nem espanta no País do "Caso Mateus" , da "Floribela" e dos "Morangos com Açucar"...
"Semos" os maiores, C."
"Até os comemos, C."
"F. esta m. toda, C."
"Era pegar neles e capá-los, C."
Se me saísse o Euromilhões eu mandava 80% dos Portugueses outra vez para a primária, C.
Nobre e caridoso Gonçalves .Tenencia!
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