Torna-se difícil ter tempo para escrever. O final da semana passada serviu para digerir os despojos de uma grande semana de férias no Hawaii. Serviu para curar o jet-lag, suspirar pelas fotografias e, claro, montar o vídeo da praxe. Ao qual introduzi já algumas alterações. Depois, foram jantares, dias de "bola", acompanhados de boa companhia e bons churrascos. Serviu para voltar a ver Portugal como campeão das vitórias morais, voltando tudo à normalidade, servindo para confirmar as qualidades do Ricardo e do Pauleta e de como Nuno Gomes não precisa de Santa Caravaggio para marcar golos... Serviu para admirar o perfume de Zizou, e claro, a sua marrada. Mas a injustiça do resultou ajudar a castigar o seleccionador dos mergulhos...
Numa cidade como São Francisco, existe um sem número de pessoas interessantes que veio cá parar mais ou menos de pára-quedas, ora a fazer doutoramentos, pós doutoramentos, fellowships, residências ou a trabalhar em empresas de ponta como a Apple ou a Pixar. E torna-se extremamente apelativo tentar comunicar e aprender com esta gente toda. Muito diferente entre si. Com passados completamente diferentes, mas muitas vezes com mais pontos de intersecção de perspectivas ou interesses que aqueles que encontro quando estou no Porto. De facto, um dos principais problemas em Portugal, e nisso tenho que fazer um grande mea culpa, é a dificuldade de conhecer e conviver com gente não médica. É hospital, hospital e depois hospital ou privada, e depois casa, ou casa e algumas saídas com os amigos, que apesar de serem sempre os melhores do mundo, são igualmente, sempre os mesmos. Só assim é que me aturam... E acabamos todos por ser muito parecidos, muito iguais.
Assim temos centenas ou milhares de pessoas, longe de casa, com a mesma necessidade de convívio, construir amizades, fazendo maior ou menor tábua rasa dos seu passado, tentando construir uma teia mais ou menos sólida de relações interpessoais. Pessoas que se por um lado, estão muitas já calejadas a viver como saltimbancos e habituadas a conviver sozinhas, para si mesmas, por outro também têm alguma necessidade de rapidamente conhecer e deixar-se conhecer, tornando muitas vezes algumas etapas mais simples ou mais rápidas.
Sábado à tarde, depois da ressaca do jogo e de um almoço de um excelente crepe francês, passei parte da tarde a conversar com um belga microbiologista, com 2m de altura, que viveu em Michigan durante uns anos como estudante de doutoramento e agora faz o seu pos-doc em Berkeley. E ele falava sobretudo das facilidades e dificuldades de criar novos amigos e também da dificuldade e do esforço que ele fazia para continuar a cultivar as amizades que mantém na Bélgica. De como apesar de se manter amigo de muitos deles, teme que estes anos sem passado comum possam interferir com o futuro. E como tenta ir várias temporadas à Bélgica e convidá-los para virem aos States, para que possam manter experiências comuns... Dizia por isso que não sabia muito bem o que queria no futuro (alguém sabe?). Mas estava certo que ou voltaria à Bélgica ou manter-se-ia de forma definitiva em São Francisco. Não queria passar por uma nova experiência de chegar a um sítio novo, desconhecido. Mas sabia que se se mantivesse por estas bandas, correria sempre o risco de ser o eterno inadaptado. Iria sempre ser um estrangeiro nas Américas e um estrangeiro para os lados da Flandres.
segunda-feira, julho 10, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
São uns sortudos, os que nascem num local assim. Mas, para os outros comuns mortais, há 2 hipóteses:
- para os que nascem no sítio errado, desprovidos dos essenciais da civilização, é natural que se opte pela fixação nesses locais cosmopolitas como esse em que estás.
- para os outros, que estão num mundo civilizado mas menos sedutor, o caso é sempre mais difícil... mas prefiro viajar (com a frequência que for possível) até essas mecas, do que estar sempre lá... entre lá e cá.
Flávio
Vivemos em tribos .pontes entre elas ? Òptimo!F amilia etc menos tempo para manter os amigos ,menos para novos .Muito menos! Tù bem observas-te somos mais iguais do que parece daí...e amigo não é o que bebe ou fuma seja o que for conosco,companheiros de route.Amigo é coisa para guardar.Estamos muito chatos ? Atura-nos!Não temos razão nenhuma?Ele defende-nos.Amigo não é racional.Isso tá nesses livros de auto-ajuda que voçes vendem aí nessa pôrra de terra!
Enviar um comentário