terça-feira, julho 25, 2006

Metro, hora de almoço. Um homem entre os 20-30 anos. Trejeitos efeminados. Chapéu Louis Vitton. Óculos de sol chiquérrimos. Blazer aprumadíssimo. Com uma medalha na lapela. Calça de balão, com padrão de xadrez. Bota até ao joelho, com presilhas várias, de cavaleiro. Malinha a condizer, também ela com brazão... Relógio Piaget ou qualquer outro na ordem dos milhares de contos. Anel com uma pedra preciosa vermelha enorme. Atende o telemóvel. Fala um inglês irrepreensível. A última chamada denuncia-o. É brasileiro*. O que faria um personagem daqueles, preparado para ir montar a cavalo, destilando dinheiro e tiques de nobreza, numa simples carruagem de metro? Se calhar ainda descende do D. Sebastião... Até porque de nevoeiro, São Francisco dá cartas...

* Ainda bem que não estava com qualquer outro lusófono à minha volta. De certeza que teríamos escarnecido do jovem...

4 comentários:

Anónimo disse...

Nelson, bota aí uma poesia bacana, pra gente bancar com este encontro inesquecivel num trem de S. Francisco!

Anónimo disse...

Pela descrição,não seria o nosso jet set Castelo Branco com sotaque brasileiro, sim porque segundo as revistas que se encontram nos consultórios medicos, para os doentes passarem o tempo enquanto esperam(não há nada melhor infelizmente), li que arranjou uma íntima amizade com um tal Frota, este de nacionalidade brasileira que faz filmes porno!

Anónimo disse...

Eu , Etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de baptismo ou de cartórium nome...estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pús na boca,nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo,até hoje não fumei
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados aos meus pés
.......
Meu lenço,meu relogio,meu chaveiro
mainha gravata e cinto e escova e pente
meu copo,minha chícara
minha toalha de banho e sabonete,
meu isto ,meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos vizuais,
ordens de uso,abuso,reincidencia,
costume ,hábito,premencia,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante
escravo da matéria anunciada.
Estou ,estou na moda.
È doce estar na moda,ainda que a moda
seja negar minha identidade,troca-la por mil,açambarcando
todas as marcas registadas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocencia demito-me de ser
eu antes era e me sabia
tão diverso de outros,tão mim mesmo.
........
Hoje sou costurado,sou tecido
sougravado de forma universal,
saio da estamparia não de casa
da vitrina me tirm,recolocam,
objeto pulsante,mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos ,tarifados.

C D Andrade
nerante

Anónimo disse...

Adorei a descrição! Podia ser minha... :) Não te imaginava a prestar atenção em tantos pormenores. Parece que é preciso os amigos irem para longe para a gente lhes conhecer novas facetas.