terça-feira, junho 20, 2006

Prémio o Vasco Pulido Valente Não É Americano

O jantar da semana passada foi à americana! Uma exaltação da excelência e da qualidade do serviço de radiologia e dos internos e fellows que terminam agora os seus "mandatos". Com direito a serem chamados individualmente ao palco, onde o orador, responsável pelo Internato, mostrava fotografias de cada um deles, da família e filhos, apontava o currículo onde pontificavam os cursos pré-graduados, doutoramentos vários, alguns com experiência profissional em empresas de topo que nada têm a ver com a Medicina como a Oracle. Depois descrevia sumariamente cada, sempre com referências elogiosas, algo superlativas e hiperbólicas, baseado em diferentes comentários que recolheu dos diferentes responsáveis de departamento por onde passaram. Foram escolhidos os melhores residentes e professores do ano. Salientou-se ainda o futuro de cada um deles, indicando onde estariam colocados no futuro imediato.
Distribuíram um libreto, à laia daqueles que se oferecem em casamentos ou baptizados, que substituía o menu pela descrição pormenorizada de cada uma das “estrelas” da noite.

Tratou-se portanto de uma auto-celebração da qualidade do serviço, do pessoal clínico e daqueles que terminam agora etapas da sua formação. Na sua maneira anglo-saxónica, do comentário sempre positivo, que realça sistematicamente o que foi bem feito, incentivando e agradecendo o trabalho prestado.

Tudo muito rápido, sem grandes floreados nem grandes discursos.

O residente do ano tirou o curso pré-graduado de Química em Harvard, frequentou a escola médica em Harvard. Internato médico no Massachusetts General Hospital. Tem um doutoramento na área das neurociências também em Harvard. Mantêm investigação 3 meses do ano num laboratório em São Diego, é modelo e iniciará um fellowship em neurorradiologia aqui na UCSF. Dá ainda aulas de salsa...

PS. Para que o título faça sentido, sugiro apenas um exercício simples de imaginação. Coloquem o Vasco Pulido Valente no meio académico americano, em São Francisco. Imaginem-no como mestre de cerimónias. Diria mal dos internos. Dos residentes. Dos fellows. Do serviço e do hospital. Dos doentes. De quem o convidou. Da comida. Do microfone. Da indumentária dos empregados. Criticaria o sistema de saúde e os políticos. O senado e o presidente. E falo do Pulido Valente apenas como exemplo. Não é nem melhor nem pior que muitos de nós portugueses. Apenas depurou e aperfeiçou um dos nossos piores defeitos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Discordo totalmente do post-scriptum. O VPV é uma das grandes referências do nosso País, a par do SLB, do Clima e do Vinho do Porto.Mesmo que esteja sempre em contra-mão e abalroe quem lhe aparecer pela frente...
É aquela voz grave e sábia de um nosso Tio-avô excêntrico, que todos nós gostamos de ouvir porque há sempre alguém que é desancado, sem piedade, e isso dá-nos um imenso prazer. Só não achamos piada, quando somos nós o alvo e isso, não tenhamos ilusões, acontecerá um dia,nem que seja por intermédio deum dos seus inúmeros discipulos, porque estamos sempre na sua mira imaginária...
A vida sem VPV, seria muito chata.Sem pessoas como ele, quantos despotismos aturaríamos?