Começam aqui os escritos de um emigrante em São Francisco. Um alien como dizem nos serviços de imigração... Tentarei contar sobretudo as peripécias de um radiologista em projecto por esta cidade algo especial da Califórnia. E será em formato de blog por forma de ocupar o tempo e também poupar tempo. Resumirei em blog, o que poderia ser enviado por e-mail.
Este formato tem também vantagens pois permite o comentário. E a discussão. Espero já o comentário irónico do Dr Nélson, o assertivo do Miguel e temo o disparatado da Lina...
Escrevo pela madrugada. São 6 horas. O jet lag tem-me cobrado umas horitas. Adormeço pelas 20h e acordo pelas 5horas. Ouço Antony and Johnsons. Estou deitado na cama do hotel... Bastante barulhento, por sinal. Sobretudo quando passa o eléctrico, ou metro de superfície, o Muni. Tudo estremece à volta com a sua passagem, as ruas, as casas, mas sou eu o único que ainda olha assustado.
A viagem foi algo penosa, sobretudo porque não sabia bem a duração nem quando chegava. Num estado algo estupuroso de sono, fiz dezenas de contas para qualquer quantas horas faltavam. Tipo menino pequeno. E das dezenas de vezes consegui errar. Achava sempre que faltava menos...
Fazer a viagem com dois franceses antipáticas e provavelmente maricas de um lado não aquece nem arrefece. Mas fazer com um americano motoqueiro, de lenço na cabeça, bigodaço, mal cheiroso, com colete de couro, sem mangas, cheio de bugiganga que estremecia a cada suspiro, com dísticos referentes ao Vietname e Iraque ("se se aproximarem menos de 100 m disparo escrito em inglês e árabe...) e com algum dedos entre os inúmeros anéis de caveiras, cobras e restante parafernália, com as inevitáveis tatuagens, é espectacular. Sobretudo o cheiro. Vá lá que ao fim de duas ou três horas já estava anestesiado. Na primeira hora tive que sair do lugar e passear. Tudo me cheirava aos pés do camone. Mas duas horas depois deixei de sentir qualquer incómodo. Maravilhas da natureza humana!!!
Mas não bastava isso. Como passou a viagem toda a dormir, não conseguia passar por ele para ir à casa de banho... Então imaginem a cena do Ruizinho a abrir as suas pernas para passar em cima dele, sempre com medo de lhe tocar e acordar...
O resto da viagem tem pouco mais que contar que a televisão do meu compartimento do avião estava avariada. O que ajudou ainda mais a passar o tempo... e a contar as horas para saber o resultado do Barcelona!
A primeira impressão da cidade, vista por uns olhos cansados (sim e lentes de óculos sujas) e por detrás dos vidros do shuttle bus, foi que seria algo dura, hostil, com imensos hispânicos e afro-americanos (!) parados nas esquinas. Mas essa perspectiva desvaneceu-me imediatamente quando cheguei à zona onde vou ficar a morar.
Tem o aspecto de aldeia pacata, com os residentes a passear os seus cães, a fazer o jogging ou ouvir os seus Ipods. Com alguma dificuldade em olhar para as pessoas que passam. Sim, ninguém olha para ninguém. Não se estabelece qualquer contacto visual. Tenho a certeza que nem com o meu gorro de Equador seria notado. Já não basta a camisa por fora, o colarinho desarranjado e os cordões desapertados. Vou ter que andar com a berguilha aberta e mesmo assim...
Entretanto vaguei já pela zona em redor da UCSF, o pólo da faculdade de Medicina e pela USF, o polo das restantes faculdades. PAssei ainda pela Haight Street onde cheirou a zona de São Francisco dos seus tempos hippies.
Dizer cheirar não é favor, dado que o cheiro a haxixe, passeava pelas ruas... Sai por trás das lentes azuis dos óculos de um qualquer hippie com idade para ser avô, ou das lojas de "fumo". Da livraria de livros anarquistas (sim, chamava-se mesmo assim).
Aprendi que as asiáticas são mais bonitas que as americanas nativas. Que todas elas gostam de andar de chinelito, mesmo estando a chover. Que estão sempre a falar ao telemóvel. Que existem bolas de golfe nas sarjetas. Que um postal andava pela rua a fazer contas com a máquina de calcular. Que existem imensas lavandarias automáticas. Que existe um respeito sagrado pelos peões. Que existem numerosas lojas de roupa e livros usados.
7 comentários:
Tenho a impressão que este blog vai ser o mais consultado cá da terra! Boa ideia ... Parabéns
Pedro
Olá Ruizito
Já vi que estás a gostar de San Francisco...
É uma cidade meio louca, não é?
Aproveita estes tempos, ainda vais ter saudades...
Porta-te bem
J. Nuno
Ola Rui,
Eu também estranhei que tivesses aberto as pernas para passar em cima de um homem, ainda por cima de colete de couro e bigodaço (como no filme «Academia de polícia»), mas ameaçares que vais pôr a pila à mostra em San Francisco para repararem em ti já É DEMAIS! Vê lá que essa cidade é bonita, mas também tem muita gente «alternativa»... Fica-te pelos olhares das asiáticas e goza a cidade. Já agora, digo-te em primeira mão que fui aceite para um fellowship em Orange, UCI, Universidade da Califórnia! (Obrigado pela ajuda)
REGRESSA RUI!!!
necessitamos com a máxima urgência do nosso chefe... Imagina lá que desde que partiste deixaram de haver reuniões de internos, começamos a ter que trabalhar as tardes todas, as internas começaram a comer croissants ao almoço, e repara só que houve mesmo uma que, de forma absolutamente imprevisível, se saiu com uma inusitada caLINAda lipónica!!!
Já te contaram que o MAC do dr Gonçalves se incompatibilizou com o projector da sala de reuniões... não há mesmo nada a fazer sentido desde que foste, por isso
REGRESSA!!!
Um grande abraço
Miguel
O teu pai já me passou o teu blog e na entrada do cinema ontem exibia-o com um misto de orgulho e de inveja, do género "este gajo para além de todo o resto escreve ainda melhor do que". Pelo que contas, a tua adaptação à cidade dos "hippies" está a ser mais fácil do que imaginavas. Pois espero que tudo te corra pelo melhor e quando precisares de algo cá da Boavista é so pedires.
Um abraço,
AG
Sporting ganhou 1-0....foi pena, a nove minutos do fim.
Benfica ganha ao Belenses por 2-1 e o Barcelona empatou com o Real Madrid (1-1)
Veremos amanhã a tremideira dos, agora, segundos classificados. O treinador voltou a "esqucer-se" do Diego e insiste com esse fenómeno que é o Alan.
O Lucho paarece ser recuperável para Alvalade.
A
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